segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A cura do cego de Betsaida

A cura do cego de Betsaida, a mim, particularmente, chama a atenção por ser um milagre feito a prestação, isto é, em 2x. Primeiro Jesus cospe nos olhos do cego, coloca as mãos sobre eles e pergunta o que ele vê. O cego responde, tipo assim: Senhor estou vendo homens, mas eles parecem árvores. Então Jesus coloca novamente as mãos sobre os olhos dele e ele passa a enxergar claramente. Nenhum outro milagre de Jesus é feito dessa forma, ao que me pergunto pelas razões que motivaram o Mestre agir de tal maneira. Debruçando-me então sobre esse texto de 7 linhas em busca de algumas respostas, detalhes me chamam a atenção.
1.       O cego não vai até Jesus, ele é levado até o Senhor. Talvez alguém questione dizendo: claro, como poderia ir o cego até Jesus? Afinal ele não podia ver, ele não enxergava. Este se esquece de um outro cego a quem Jesus também curou, o cego Bartimeu, que vislumbrando a possibilidade do milagre gritou: “Jesus, filho de Davi tem misericórdia de mim”. Por isso, voltando ao fato de que o cego de Betsaida é levado até Jesus, quando Bartimeu grita pelo Mestre, concluo que parte da doença das pessoas está na incapacidade de se enxergarem como tal, ou seja, como doentes e, a partir daí, procurarem ajuda. Principalmente quando as doenças (ou as deficiências para ser mais fiel ao caso em apreço) não são, a princípio, fisicamente, aparentes, como a cegueira, mas são males da mente, causados por distúrbios psíquicos ou hormonais, ou os dois juntos. O que dizer da cegueira das pessoas no que diz respeito aos males da alma? Àqueles gritos mudos que nos questionam sobre o sentido da vida, sobre a morte, sobre o Criador de todas as coisas?! É possível que muitos que dizem que podem ver, estejam, na verdade, cegos para a dimensão psíquica e espiritual do sofrimento, precisando que lhes tomemos pelas mãos e os conduzamos ao Salvador, como fizeram os personagens deste texto.
2.       Jesus pegando-o pela mão o conduziu para fora do povoado. Ele não tratou daquele homem na frente das pessoas que o levaram até ele. Deus não nos expõe, ele trata dos nossos problemas particularmente, ele nos preserva, porque ele nos ama. Inspirem-se nesse exemplo, vocês lidarão com a intimidade das pessoas. O sigilo profissional deve ser guardado. São seres humanos com sentimentos, limitações e problemas, assim como eu e vocês.
3.       Jesus perguntou ao cego: estás vendo alguma coisa? O que pode nos fazer questionar o seguinte: ué, será que Jesus não sabia ou não tinha consciência do que fazia? Pelo contrário, Jesus nos ensina sobre humildade, sobre ouvir as pessoas. Vocês como profissionais da saúde não devem fazer apenas aquilo que reza a cartilha de atendimento e, com o tempo, se tornar insensíveis a dor ou ao sofrimento de seus pacientes. Interessem-se por cada caso, tratem cada um de per si, vocês devem ir além e utilizar o conhecimento que adquiriram na faculdade como dom dado por Deus para a transformação e a cura de pessoas e não apenas como profissão.
4.       Foi por ouvir o cego que Jesus não lhe deu ‘alta’, mas percebeu que ele ainda não estava curado. Já pensou se Jesus despedisse o homem vendo pessoas como árvores?! Seria mais um lidando com gente, como algo vivo, porém estático, incapaz de ver que apesar da fortaleza aparente da madeira havia uma alma e uma mente que precisavam de cuidados. Que as intempéries da vida não atingem apenas as nossas cascas, mas os nossos corações. Que as folhas não caem apenas no outono, mas que elas podem cair pelo sofrimento e pela dor. E que a beleza de seus frutos não depende exclusivamente da terra e da água, mas do toque de Deus em nossos espíritos. Sejam instrumentos de Deus para tocar e transformar vidas.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Laicização do Estado e a Liberdade de Expressão Religiosa

As democracias pós-modernas vivem um momento de decisão: como conjugar o processo de laicização do Estado e a liberdade de expressão religiosa? Uma prova da veracidade dessa afirmação é o P.L. 122, em tramitação no Congresso Nacional, que prevê a criminalização da homofobia. Todavia, não é função do Estado intervir nos posicionamentos ético-morais de seus cidadãos, mas garantir a convivência pacífica dos diversos grupos que o compõe.

A institucionalização de um Estado “leigo” compreende, ao mesmo tempo, a liberdade de expressão religiosa, a não intervenção e a proteção dos locais de culto. No entanto, a religião ao posicionar-se sobre questões ético-morais termina por intervir na vida do Estado. A religião atua no campo das idéias e (por isso termina por) determina(r) comportamentos.

Nos últimos tempos temos assistido tentativas, desesperadas, do Estado de tutelar questões que nada tem a ver consigo mesmo ou com o Direito, porque dizem respeito à intimidade dos indivíduos. Um bom exemplo é o uso da expressão “orientação sexual” no P.L. 122. Cabe ao Estado coibir comportamentos (inclusive) preconceituosos, não lhe cabe criar ou institucionalizar categorias de gênero, porque elas são idéias. O Estado atua sobre as ações ou omissões dos indivíduos e não sobre o que eles pensam.

Isto posto, ao posicionar-se sobre o homossexualismo a religião cumpre o seu papel, qual seja, o de formadora de opinião. Ao institucionalizar categorias de gênero o Estado deixa de gerir comportamentos e passa a gerir idéias e essa não é a sua função.