Estou as
vesperas de completar 30 anos, de existência, não de consciência de consciência
são ainda bem menos os meus anos. Na flor da idade percebo facilmente no meu
corpo as transformações do tempo. Pra alguém que nunca foi forte, estou um
pouco melhor, mas sinto que demoro muito a amadurecer. Penso, quase a todo
momento, como um menino, que só quer correr, brincar e se divertir. Ter um
carrinho mais bonito do que seu coleguinha, uma casinha mais legal e uma
namorada mais bonita. Penso em ser alguém importante, em fazer grandes coisas,
em deixar meu nome gravado na história, exatamente como meus pais um dia me
disseram que se eu quisesse poderia ser até presidente. Alguns poucos momentos
me trazem a realidade, por exemplo, quando chegam as contas no início e no
final do mês, quando a minha rotina de 8 a 12h de trabalho por dia,
naturalmente, me cansa etc., mas nada tão arrebatador quanto choque de
realidade que a dor e o sofrimento causam. Não me entenda mal, com essa idade
tenho pouquíssimos problemas de saúde, pra não dizer nenhum, portanto não falo
da minha dor, do meu sofrimento. Falo de sofrimentos piores ou mesmo maiores do
que os meus próprios, falo do sofrimento daqueles a quem amo. Só eles são
capazes de me abduzir dos meus sonhos e tão abruptamente me transportarem para
a realidade. Minha impotência se torna desesperadora. Minha fé... Nesses
momentos as casinhas e os carrinhos mais bonitos dos meus sonhos não tem
nenhuma graça ou importância, as roupas novas, as coisas legais que juntei, são
lixo, ou são nada. O sofrimento daqueles a quem amo são maiores que as minhas
vaidades, são maiores do que eu. Percebo que por trás de cada pessoa com a qual
tão roboticamente me relaciono há uma teia de histórias, de relacionamentos, de
sentimentos. Percebo que enquanto eu dormia a vida acontecia. Quero acordar.