terça-feira, 31 de maio de 2011

Na Metade do Caminho



Provavelmente, ao menos uma vez, você já me ouviu falar, ou questionar sobre o real sentido da vida. Sobre a necessidade de transcender a realidade maçante que nos rodeia e, em muitos momentos, consome. Isto, porque estou consciente de que apesar de muitos de nós nutrirmos verdadeira gratidão a Deus por tudo aquilo que ele nos tem dado, como por exemplo, um bom trabalho, capaz de prover mais do que dignamente nosso sustento, uma confortável casa, recursos para custearmos a educação e até os caprichos de nossos filhos etc, vez ou outra, uma questão nos sobrevêm: será que é só isso, foi para isto que fui criado? Algumas vezes nos sentimos até mal pela recorrência de tal pensamento, e fingimos ignorá-lo, afinal Deus tem nos dado tanto, feito tanto por nós, e por nossas famílias, que seria quase pecado alimentar essa indagação, esse sentimento. Mas não é. Todas as vezes que você se questiona nesse sentido o desejo de plenitude, que Deus plantou no seu coração está querendo germinar.
Por isso hoje, eu quero te apresentar a solução.  Não vou falar sobre as coisas elementares da fé cristã, acho que já estamos conscientes de que Jesus é o único caminho para Deus, para a salvação de nossas almas, a solução de nossos problemas, quero falar sobre a resposta específica para os momentos em que esta questão assaltar nossas mentes, a solução para nossa crise existencial, para a nossa realização pessoal – nossa vocação, a vocação de todo servo de Cristo, o serviço.
Sobre esse assunto, alguns textos me chamam a atenção, por exemplo, Tg 1, 27 “A verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo. Também no concílio de Jerusalém a instrução a nós gentios é clara .... O próprio Jesus, em Mt 25, 35-36, disse que quando vier julgar o mundo um dos critérios que utilizará será “pois eu tive fome e vocês me deram de comer; tive sede e me deram de beber; fui estrangeiro e vocês me acolheram; necessitei de roupas e vocês me vestiram; estive preso, e vocês me visitaram”. Todavia não há nada novo neste ensino (Dt 14, 29)
Perceba todos esses textos, de uma forma ou de outra, relacionam religião com atitude. Não se trata apenas de crer, confessar ou assumir uma filosofia de vida. Se trata de pratica-la de vive-la.  Mas um narrativa, em especial, chama minha atenção, Mc 7, 9-11.
9 E disse-lhes: "Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecer às suas tradições!
10 Pois Moisés disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’, e ‘quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado’.
11 Mas vocês afirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é Corbã’, isto é, uma oferta dedicada a Deus,
12 vocês o desobrigam de qualquer dever para com seu pai ou sua mãe.
13 Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa".

O texto lido apresenta um duro embate entre Jesus e os fariseus. O vs 9 nos esclarece o motivo de tal conflito: os fariseus estavam sempre encontrando uma boa maneira para por de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecer as suas tradições. O que me parece muito com o que fazemos ao elaborarmos algumas boas justificativas para as nossas omissões, ou para que fiquemos sempre e apenas na metade do caminho.
vs 10 Naquele caso específico a lei de Moisés dizia: “Honra teu pai e tua mãe, quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado”.
vs 11 Mas eles afirmavam – “Não aquilo que eu deveria a meu pai e à minha mãe agora é Corbã, ou seja, uma oferta a Deus.
vs 12 E com isso acham um jeito de burlar a lei de Deus, e fazer o que bem entendiam, o que lhes era mais cômodo.
O que Jesus estava dizendo era – o mandamento de Deus é claro honra teu pai e tua mãe, por mais que isso te custe, ainda que, aparentemente, isso não valha a pena. O que Deus quer de você é uma atitude, honre-os., seja lá o que isso for ou implique.
Mas isso dá muito trabalho. Não faz sentido! Vamos fazer o seguinte: no lugar da honra que eu devia aos meus pais, vou oferecer uma oferta a Deus (corbã). Em outras palavras, eu prefiro pagar a fazer o que devo. Para não me preocupar, para não me envolver. Observe a astúcia do pensamento humano, o mandamento diz Honra teu pai e tua mãe. É um imperativo. A justificativa humana diz qualquer ajuda. E com isso já restringe honra a uma compensação financeira pela ausência, pela grosseria, pelo descaso, pela falta de honra. Entende, é isso que temos feito também com a Palavra do Senhor. Temos pensado maneiras de subjulga-la, de submete-la a nós mesmos e não de nos submetermos a ela. Temos pagado para que façam o nosso serviço. Pagado pelo nosso comodismo. Para nos eximirmos do mandamento de Deus fazemos como os fariseus, estipulamos uma compensação financeira. Algo que nos custe algum dinheiro, nada porém infungível.
vs 13 Vocês terminam por anular a palavra de Deus, por meio de suas próprias  palavras, por meio da tradição de homens e mulheres. E não param por aí, este é apenas um dos muitos exemplos!
O que Deus exigia do povo de Israel ao estabelecer o primeiro mandamento com promessa era o que Jesus exigia dos fariseus e é o que exigirá de nós: ação, serviço. Trabalhar na igreja, trabalhar para os outros não é  dar uma ajuda pra Deus, para que ele faça a sua obra. Pagar para que façam o nosso serviço, é ficar na metade do caminho. Estamos terceirizando a nossa missão! Na verdade estamos terceirizando quase tudo: o nosso relacionamento com nossos filhos, às escolas, às igrejas, aos psicólogos, pedagogos etc. O nosso relacionamentos conjugais são substituídos por terapias de casais, etc Mas o que se espera de nós é mais. Precisamos nos envolver, arregaçar as mangas e trabalhar. Deixar a nossa zona de conforto. Quando você paga por um serviço ele é feito, mas só parte da obra está completa. A obra que Deus quis realizar na vida do outro, mas parte que ele queria realizar na sua vida continua por fazer. O vazio de sua alma não foi plenamente preenchido, vc não experimentou a satisfação do Espírito de Deus em sua vida, por/no se doar aos outros, como oferta a Deus. Era isso o que o apóstolo Paulo tinha em mente quando falava de nos oferecermos como sacrifícios vivos ao Senhor em suas cartas. Este é um mistério profundo do agir de Deus. Ele é sinérgico.
Não podemos nos contentar em contribuir para missões. Ainda que historicamente estejamos fazendo isso muito bem. Devemos fazer missões, e eu louvo a Deus pela visão que esta igreja tem tido, ao apoiar nosso pastor na contratação de um Ministro Coordenador de nossa atuação missionária. Mas se nós continuarmos apenas contribuindo financeiramente com este trabalho, apenas parte da obra será realizada, ficaremos na metade do caminho. Estaremos sendo instrumentos para edificação de outras vidas e isso é louvável, mas o Senhor quer mais de nós ele quer que vc também experimente do seu amor no e através de missões, do serviço. E pra isso nem todos precisam ir à China. Há muito trabalho aqui, na Memorial, nas nossas casas etc. Nosso pastor já nos ensinou que a melhor tradução para o ide de Jesus é: e indo, fazei discípulos. Nas escolas, nos trabalhos, nas faculdades etc, fazei discípulos. Não anulemos o mandamento de Deus em nome do nosso comodismo.
Deus tem grandes planos para esta igreja, para a sua vida, nós somos ricos no sentido que Paulo se refere aos Coríntios, porque nada, nem nenhum dom nos falta, mas temos vivido como pobres espirituais e e isto porque a responsabilidade de suportamos os fardos uns dos outros e edificarmos as vidas uns dos outros com os dons que o Senhor nos Deus tem caído sobre os ombros de alguns apenas, uma pequena liderança.
O cristianismo não é apenas uma filosofia de vida, portanto não deve habitar apenas o campo de nossas idéias. A fé cristã não é um mantra, portanto um conjunto de palavras frequentemente repetidas com vistas a libertação de nossas mentes. O cristianismo é praxi vitae, é prática de vida, é serviço. A igreja não é apenas uma instituição, com CNPJ, portanto, não pode contar apenas com o trabalho de seus assalariados.
A igreja, vocÊ foi criado para o serviço. Suas instalações não foram edificadas apenas com tijolos, cimento e concreto, ela foi e continuará sendo edificada pelo sangue de Cristo derramado na cruz, também pelo sangue e suor de mártires e pelo amoroso servir de seus membros, hoje.
E não é preciso muito mais do que disposição para servir, vez que trabalho não falta. É necessário apenas descobrir onde você se encaixa. Quantos Ministros e minstérios não precisam hoje, exatamente de você. Pense no que essa igreja poderia ser, no que poderíamos fazer em Brasília, no Brasil e no mundo! O Crescer está de portas abertas.
A satisfação é garantida, porque o serviço é realizado com a plenitude de nossas possibilidades e dons. Estaremos no centro da vontade de Deus, portanto explorando e experimentando tudo aquilo que fomos criados para ser. Teremos nossas falhas e limitações supridas pelo próprio Deus. E ao final do serviço terminaremos com a convicção de que cooperamos para o avanço do Reino, cheios do Espírito, com alegria indizível, porque a medida em trabalhamos gozamos nós mesmos do fruto de nosso trabalho, além de abençoar outras vidas também! Quer entender exatamente o que tudo isso significa? Trabalhe conosco para Senhor.

terça-feira, 17 de maio de 2011

PL 122


As democracias pós-modernas vivem um momento de decisão: como conjugar o processo de laicização do Estado e a liberdade de expressão religiosa? Uma prova da veracidade dessa afirmação é o P.L. 122, em tramitação no Congresso Nacional, que prevê a criminalização da homofobia. Todavia, não é função do Estado intervir nos posicionamentos ético-morais de seus cidadãos, mas garantir a convivência pacífica dos diversos grupos que o compõe.
A institucionalização de um Estado “leigo” compreende, ao mesmo tempo, a liberdade de expressão religiosa, a não intervenção e a proteção dos locais de culto. No entanto, a religião ao posicionar-se sobre questões ético-morais termina por intervir na vida do Estado. A religião atua no campo das idéias e (por isso termina por) determina(r) comportamentos.
Nos últimos tempos temos assistido tentativas, desesperadas, do Estado de tutelar questões que nada tem a ver consigo mesmo ou com o Direito, porque dizem respeito à intimidade dos indivíduos. Um bom exemplo é o uso da expressão “orientação sexual” no P.L. 122. Cabe ao Estado coibir comportamentos (inclusive) preconceituosos, não lhe cabe criar ou institucionalizar categorias de gênero, porque elas são idéias. O Estado atua sobre as ações ou omissões dos indivíduos e não sobre o que eles pensam.
Isto posto, ao posicionar-se sobre o homossexualismo a religião cumpre o seu papel, qual seja, o de formadora de opinião. Ao institucionalizar categorias de gênero o Estado deixa de gerir comportamentos e passa a gerir idéias e essa não é a sua função.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sobre a Lei



Ela foi guia e consciência do pecado, abolida pelo seu cumprimento por, e em Cristo (Ef. 2,14-15). Não posso negar que a essência da Lei persista, mas sua condenação e maldição certamente foram revogadas. Negar essa assertiva é negar a extensão do sacrifício de Cristo.
Na cruz ele tomou sobre si a maldição da lei fazendo-se pecado por nós.

A mensagem aos fariseus, nomistas, foi e continua sendo não a lei por ela mesma, mas por sua essência, pelo que ela veio instituir, um diagnóstico (uma consciência) e um caminho. Os padrões éticos da Lei são a sua essência. Mas devem ser observados muito além da norma pela norma, deve ser observada sua motivação. O cumprir da lei não deve ter por objetivo a isenção da pena, mas a consciência para com Deus.

Ela representava a vontade de Deus.

Porque cumprir a lei? Por amor, obediência. O cumprimento ou não da lei denunciará o meu relacionamento com seu autor.

O foco muda, não é a letra, porque a letra mata, mas a essência, o espírito, porque ele vivifica.

Nesse âmbito da letra fria da lei não há espaço para a graça. O legalista encontra “consolo e justificação” nas suas obras.

A penitência alimenta o ego, não mortifica a carne, mas vivifica-a.
Qual o papel de Cristo, se viva a Lei?

Não se pode deixar que a lei engesse nosso relacionamento com Deus.
A lei prega uma justificação fadada ao insucesso. A fé é o método do evangelho.
A morte não é gerada pelo descumprimento da lei, mas pela negação de Cristo.

A declaração de Cristo de que não viera abolir a lei e os Profetas, mas cumpri-la / A lei e os profetas apontavam para Cristo. A lei indicava o caminho (Cristo). A lei morre com Cristo. (Mt 5,17).  A lei foi revogada pelo seu cumprimento. (Mt 5,18)