sábado, 19 de novembro de 2011

At. 7,25
"Pensou errado!"
Quem nunca ouviu esta expressão em meio as mais diversas elucubrações? Tipo: – Mas eu achei, pensei que você tinha dito, ou deixado! – pois é, pensou errado. Entre crianças, adolescentes e jovens eu sei, e os pais aqui presentes também sabem, que esta é uma expressão muito corriqueira. No caso do texto, essa expressão cairia muito bem a Moisés, que já não era nenhum adolescente aos 40 anos. Ele pensou que os israelitas entenderiam que Deus o estava usando para libertá-los da escravidão, mas pensou errado!
Talvez alguns estranhem o fato da história de Moisés estar sendo contada aqui em Atos, já que é o livro de Êxodo quem a ela primeiramente faz menção. Acontece que aqui ela está sendo rememorada por Estevão, como parte de sua peça de defesa no sinédrio. O ponto fulcral de seu argumento era que assim como eles (os judeus) haviam perseguido homens como Moisés eles também o perseguiriam agora. Contudo, infelizmente apesar de todo o esforço o fim de Estevão foi a morte. Ele foi brutalmente assassinado, apedrejado.
Mas voltando às memória de Estevão sobre a vida de Moisés vejamos. Em At 7, 20 Estevão diz que Moisés era um menino especial, desde cedo experimentou o agir sobrenatural de Deus em sua vida, quando foi salvo das águas do Nilo pela filha do faraó. Criado no palácio como um príncipe. Educado com os melhores estres de seu tempo, acostumado às regalias da riqueza. Até que finalmente, aos 40 anos, em pleno vigor físico e intelectual ele conclui seus estudos e resolve visitar seu povo. Nesse passeio ele vê um de seus irmãos, israelitas, maltratado por um egípcio e, em um piscar de olhos, tudo faz sentido, ele pensa - foi para esse momento que me preparei toda a vida, era isso que Deus queria para mim. Cheio de coragem e autoridade, porque pretensamente agindo sob os auspícios do Senhor,  ele se lança contra o egípcio e o mata. Imagino que ele volte para o palácio convicto de que fizera a coisa certa, afinal seus motivos foram nobres e sua intervenção autorizada pelo próprio Deus. Mas ele pensou errado. No dia seguinte, quando ele encontra novamente os israelitas e os apanha em grave desavença se ainda tinha alguma dúvida pensa - olha aí num disse, é isso que Deus realmente quer de mim, ato contínuo, repreende os brigões e para a sua surpresa e desespero é empurrado por um deles e  asperamente censurado. Moisés sente-se traído por pessoas de quem esperava gratidão.
Ele foge desprevinidamente, talvez com a roupa do corpo para o deserto. Já imaginou o que se passava no coração de Moisés naquele lugar? A confusão de suas idéias, a sua revolta com Deus? Do céu, ao inferno existencial em alguns segundos. Possivelmente Moisés tenha se sentido, injustiçado por Deus, igualzinho a você.
Meus irmãos, possivelmente, vocês estejam vivendo situações similares a de Moisés hoje. Perdidos, confusos, desapontados, ou mesmo revoltados com Deus em virtude de algum acontecimento em suas vidas, nostalgicos de momentos não tão distantes quando tudo parecia estar indo muito bem, exatamente como deveria ser. Sentiamo-nos mais perto de Deus, estavamos procurando fazer a sua vontade, academicamente satisfeitos, profissionalmente bem colocados mas, de repente, uma má escolha, uma decisão impulsiva, irrefletida tirou o nosso ‘chão’, fez com que nossos sonhos desmoronassem e se transformem em pura quimera. Uma situação que se sucedeu e uma interpretação equivoca que se fez, foram suficientes para arruinar uma vida, foram suficientes para que aqueles de quem esperávamos gratidão, grandes amigos, nos ‘virassem as costas’.
Queridos, quando tudo aparentemente vai muito bem precisamos com mais afinco nos apegarmos ao Senhor, e não nos afastarmos dele como corriqueiramente fazemos, porque o nosso coração é enganoso e a vaidade é inebriante ao ponto de nos acharmos capazes de interpretar a vontade de Deus para cada detalhe de nossas vidas, porque é justamente no nosso grito de independência do Senhor que nos tornamos vulneráveis... O curioso é que concomitantemtne, ou imediatamente após a nossa queda somos levados a questionar, por que Senhor, eu pensei que estivesse fazendo a tua vontade, agindo de acordo com o teu querer. Pensou errado.
A arrogância precede a queda, já disseram alhures. Moisés foge e vive um deserto... Mas mesmo em meio aquele turbilhão de acontecimentos, de dor, de sofrimento é possível ver a mão de Deus sobre a vida de Moisés. Deus lhe providencia uma moradia, uma família, um refúgio, no deserto. Lá ele tem seus filhos e é quebrado e refeito pelo Senhor. ???
Passados outros 40 anos Moisés tem um encontro com o Senhor em meio a hierofania da sarça ardente. E o irônico da história é que, agora sim Deus quer que ele liberte o seu povo. Como assim? Depois de todo esse tempo, agora que já sou velho, sem vigor, agora não dá mais não Senhor, é o que Moisés diz a Deus por seis vezes. Mas entenda uma coisa nessa manha meu irmão e minha Irma os planos de Deus para a sua vida são imutáveis e quem decide a hora de realizá-los não é você, é o próprio Deus, isso é mistério para nós! Uma das coisas mais valiosas que eu tenho entendido no meu ministério é que muitas coisas eu posso e preciso aprender sobre Deus, mas outras tantas por mais que eu me esforce e deseje entender são simplesmente incompreensíveis para mim, nessas coisas só nos resta obedecer. (porque os planos são mais altos e os meus caminhos mais elevados que os vossos caminhos Is 55,9) o querer e o agir de Deus muitas vezes não coicidem com os nossos.  Quatro décadas foi do que Deus precisou para trabalhar na vida de Moisés, até que ele viesse a ser o que ele foi criado para ser. Quatro décadas para se perceber sem a força e o vigor necessário para a obra. Para entender que a obra que ele ia realizar era na força do Senhor. A humildade traz lucidez, ela consegue medir a imensidao do desafio e a pequenez das nossas forças. A glória é de Deus e não nossa.
Conclusão:
1.     Se você vive um momento em que tudo vai ‘de vento em polpa’ em sua vida, amém, é benção, mas não se esqueça que isso tudo lhe é dado por Deus, não olvide dele, não confie nos seus julgamentos para tomar suas decisões;
2.     Nos momentos de dor não se volte contra Deus, pare, reflita, talvez você esteja nessa situação por sua culpa mesmo, você ‘pensou errado’
3.     Os desertos podem ser o meio do caminho (a escola) para onde Deus deseja te levar, o tempo que você vai passar nele só depende da ficha cair, Moisés 40 anos, Jesus 40 dias
4.     Os sonhos de Deus (não os nossos sonhos) não morrem e o tempo dele é diferente do nosso. Humilhem-se diante do Senhor e ele os exaltará (Tg 4, 8-10)