quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Império dos Sentidos



O que impera sobre seus sentidos?

Como estão os seus olhos?
Um dia desses, à noite, estava lendo, despretensiosamente, Mt 6,22 e, casualmente, comecei a refletir sobre os meus olhos, não sob o ponto de vista do que vejo e sim sob a perspectiva com que vejo e percebi que estou vendo mal.
Qdo nos falam sobre os olhos geralmente nos chamam a atenção para o que vemos e nos advertem sobre aquilo que não devemos enxergar. Não me parece ser o que Jesus fez, não mais. Jesus nao nos chama a atenção para o que vemos, isto é, essa não é sua preocupação central. É impossível controlar o tempo inteiro o que entra por essas "janelas da alma". A questão é a alma! E não o mundo. A alma reflete a disposição do nosso coração, refletida ou irrefletidamente. É ela, ou melhor, somos nós quem direcionamos nossos olhos. E se o que há em nós for mau, forem trevas, todo mundo será escuridão: nossos relacionamentos, nossa casa, nossa profissão. Logo pensei... da próxima vez que eu olhar para o mundo e enxergar escuridão, vou olhar para mim mesmo e ver o que há em minha alma. Ledo engano... na manhã seguinte tudo estava um breu, olhei para a minha alma e se quer a consegui achar. Normalmente, esse tipo de mudança não acontece da noite para o dia. A maneira como enxergamos as coisas é, também, fruto de um comportamento aprendido, assimilado ao longo dos anos de nossa existência. Para enxergar na escuridão que, muitas vezes, existe dentro de nós é preciso de luz, mas ela não se encontra em nós mesmos.  É preciso que alguém lance luz sobre a nossa existência. Para mudar a realidade que nos rodeia é preciso antes mudar nossa alma, nós mesmos precisamos ser mudados, curados. Só assim um mundo novo e melhor poderá existir! Quando o que houver em nós nao forem trevas, mas luz, o mundo inteiro será iluminado. Nossa perspectiva sobre o que vemos imediatamente se transformará. Jesus é a luz do mundo! Que essa luz transforme a nossa visão e domine sobre todos os nossos sentidos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Como sombras de nós mesmos



Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alquire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. (Mt 5,13-16).

Apesar de pequeno, este recorte nos faz perceber bem o 'tom' do Sermão do Monte. E, com fins meramente ilustrativos, acho válido estabelecermos um paralelo entre este texto e aquilo que seria uma releitura do Mito da Caverna de Platão. Relendo a alegoria de Platão... era uma vez uma caverna. Uma caverna grande e escura. Dentro dela viviam homens e mulheres, adultos e crianças. Todos tinham suas tarefas na caverna. Atividades pesadas e pensadas que consumiam todo tempo entre o acordar e dormir daquelas pessoas, exceto por um momento. Um breve momento, quando a caverna era invadida pela luz e tudo dentro dela ficava muito claro. Naqueles instantes alguns fechavam os olhos, outros procuravam orientar suas ações, percebendo a correção ou o erro do que faziam, para muitos era o momento de olhar para quem estava ao seu redor, ou ainda de olhar para si mesmos, através de suas sombras projetadas nas paredes da caverna. Quando a luz se esvaia todos eram novamente envolvidos pela escuridão, era hora de dormir... O brilho da luz incomodava muito, outras vezes, revelava algo com que valia a pena sonhar. Como aquelas pessoas foram parar ali? Diz a estória que, em tempos imemoriáveis, homens e mulheres  foram atraidos e aprisionados naquele lugar ao perceberem suas propriedades mágicas - a caverna permite enxergar apenas aquilo que se quer ver.
1.
A partir desta leitura, muito particular, do mito da Caverna, percebo que é possível que estejamos a viver como sombras de nós mesmos. Dentro de cavernas. Definidos e consumidos pelas pesadas atividades que desenvolvemos todos os dias entre o acordar e o dormir. Atividades que não nos permitem respirar ou suspirar. Quem pensou para nós essa vida, essas atividades? Quem nos embuiu delas? Qual o seu sentido? São perguntas que uns todos os dias tentam responder, enquanto outros têm medo de enfrentá-las.
2.
Mas há momentos em que, tal qual aqueles homens e mulheres, somos desafiados pela luz. Quando tudo fica muito claro e é possível ver. O 'que temos feito desses momentos? Muitos fecham os olhos, já não querem mais enxergar nem a sombra daquilo que poderiam ser. Outros brincam com a projeção da luz sobre o seu corpo. Muitos esperam esse momento para olhar para os outros. A maioria para apontar defeitos e falar da vida alheia. Poucos para ajudar e estender a mão. E tão poucos quanto os últimos, há alguns que olham para si mesmos e tentam se orientar pela luz.
3.
Seja como for, o brilho intenso da luz incomoda a todos, apesar de provocar reações diferentes em cada um. Por isso quando ela se esvai é melhor dormir para voltar a fazer amanhã o mesmo que fazemos hoje, ou para sonhar com aquilo que poderíamos ser, mas que nunca seremos enquanto habitarmos em cavernas!
4. Qual é a sua caverna? Onde você se esconde daquilo que não quer ver?
Na sua profissão e no status daquilo que ela representa para o mundo? Em casa, nos afazeres domésticos? Na faculdade, no cursinho, na escola? Aqui, nas quatro paredes deste templo? Na religião? Ou em todos esses lugares?
5.
No mito de Platão alguém, um dia, saiu dessa caverna e voltou para contar a novidade da vida lá fora. Todos acharam que ele estava louco. Na história da humanidade o Filho de Deus se fez carne e habitou entre nós para nos falar de uma outra possibilidade para o existir, que vai muito além de nossas cavernas...
Ele nos disse em Mt 5-7 que devemos amar aos nossos inimigos, dar a outra face, orar pelos que nos perseguem, evitar julgamentos precipitados, ajuntar tesouros no céu, entrar pela porta estreita, construir sobre a rocha, ajudar aos necessitados e pregar o verdade do evangelho a toda criatura sem considerar as nossas vidas preciosas a nós mesmos. E mais que aquele que quiser ser o maior deve ser o servo de todos!
Ele nos ensinou a ter fome e sede de justiça, a sermos misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, sal da terra e luz do mundo. Ele nos instou a guardar os nosso lábios, as nossas mente e os nossos corações. A nos arrependermos de nossos delitos e transgressões, a orarmos e a perdoarmos a quem nos tem ofendido. Ele nos Amou e nós o crucificamos! Porque preferimos o conforto de nossas cavernas.
Ele quis tomar sobre si os nossos fardos, aliviar nossas cargas. Mas elas dão sentido ao nosso jeito miserável e desumano de ser. Ele quis nos falar que as preocupações da vida não nos definem, que nós não devemos andar ansiosos por nada nem pelo que havemos de comer, beber ou vestir. COMO SOMBRAS DE NÓS MESMOS. Que nós somos mais importantes do que as nossas roupas possam aparentar. Que a nossa vida é mais importante do que o requinte do alimento que ingerimos ou das panelas que o preparam. Ele teve a sabedoria de nos mandar aprender com as aves do céu e com lírios do campo que não estão preocupadas com essas coisas e mesmo assim Deus a eles prove. Ele disse que por mais ansiosos que estejamos não podemos acrescentar um dia às nossas vidas. Basta a cada dia o seu próprio mal. O dia de amanhã cuidará de si mesmo. Preocupem-se em sair das cavernas, em enxergar as coisas como elas realmente são. Em buscar em primeiro lugar as coisas e os padrões do Reino de Deus. Em abrir os olhos espirituais. A confiar na providência do Senhor. Em anunciar essa mesma mensagem que cura, restaura, liberta e salva àqueles que, ainda perdidos, habitam nos guetos, nas ruas, debaixo das marquises, no SCS, na Rodoviária, nas invasões, no lixão, no Conic, no nosso prédio, na nossa casa, nas cavernas. Preocupem-se em ser sal da terra e luz do mundo.
6.
O que faremos agora? Vamos dormir para esquecermos mais rápido o que ouvimos ou vamos nos contentar em sonhar que essas coisas poderiam ser realidade em nossas vidas? Tomara que nenhuma nem outra!

Jesus disse: vós sois o sal da terra...
Nós fomos criados para ser o SABOR desse mundo, mas como já não salgamos nada temos sido pisados e humilhados pelos homens. Nós éramos a luz deste mundo, cabia a nós distinguir o certo do errado, o bem do mal, mas ela já não ilumina nem o suficiente para nós mesmos!
Nós fomos atraídos e aprisionados em cavernas, porque as rochas nos transmitem uma falsa sensação de segurança, de controle. Nós somos atraídos e aprisionados em cavernas dos mais variados tipos na tentativa de recolocarmos as rédeas de nossas vidas em nossoas próprias mãos e, já quase não percebemos que é isso mesmo o que nos aprisiona e escraviza. Essa tentativa de estabilidade.
Se a sua segurança não estiver em Deus ela não é segurança alguma, é isso o que Jesus está nos ensinando nesse sermão. Se elE não for a nossa rocha, o nosso refúgio, não há para onde correr! ElE quer nos libertar de nossas cavernas, mas para habitarmos fora delas elE tem que ser TUDO para nós!

sábado, 12 de janeiro de 2013

Entre você e o milagre


Hoje eu quero falar sobre duas coisas que podem estar entre vc e os seus sonhos em 2013.



Texto base: Mt 9, 1-8.

Como eu vou precisar me referir a esse paralítico muitas vezes durante a nossa reflexão, para não me tornar excessivamente repetitivo, acho que podemos dar a ele um nome, que tal João, se bem que poderia ser Evandro, ou talvez o seu nome, mas... João.

Muito bem, naquele tempo, como todos sabem, não havia, se quer cadeira de rodas. Digo isso, para lembrar que liberdade de locomoção era um conceito incogniscível a João, bem como as idéias de inclusão social e acessibilidade. Todo deslocamento dele exigia boa vontade de outras pessoas, e como é difícil contar com o favor alheio.

Não sei dizer se João era paralítico de nascença ou se o ficara em algum momento de sua vida, mas o texto deixa transparecer que sua paralisia não era tão somente física, parece que toda a sua vida tinha parado com aquela deficiência.

E como que julgá-lo?

Possivelmente durante a sua existência ele sofreu todo tipo de bullying e preconceito. Como se já não fossem grandes e complexos suficientemente seus próprios conflitos, seus questionamentos sobre Deus? Não é de se estranhar que aquele homem chegue até Jesus desacreditado, exausto. Por muito menos nós nos revoltamos, contra Deus, deixamos de orar, ler a Bíblia e vir a igreja.

Por isso as palavras de Jesus: E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo (...) Mateus 9:2

Era essa a parte que lhe cabia, ter bom ânimo, manter viva a esperança. Não deixar a “peteca cair”. [E, se pensarmos bem, essa é a única coisa que Deus exige de nós também diante dos problemas, bom ânimo. “No mundo tereis aflições mas tende bom ânimo eu venci o mundo”. Jo 16,33. Ele não pede que resolvamos os nossos problemas, ou que finjamos que eles nao existem, ele pede bom ânimo, disposição. Ele venceu o mundo, a nossa força e confiança devem estar nele!]

(...) perdoados te são os teus pecados. Mateus 9:2
E, entrando no barco, passou para o outro lado, e chegou à sua cidade. E eis que lhe trouxeram um paralítico, deitado numa cama. Mateus 9:1

Além disso, aquele homem tinha um problema espiritual. O texto nao fala explicitamente sobre ele, mas nos dá dicas quando informa que João fora levado até Jesus por seus amigos e que Jesus, ao ver a fé que eles tinham, isto é, a fé dos seus amigos, volta suas atenções ao paralítico. Percebe, aquele homem, não pede para ser levado até Jesus, ele já não acreditava mais, havia se acomodado a sua situação, ao seu estilo de vida. Por isso quando chega até Jesus ele não enxerga o Cristo, o Filho de Deus! A solução dos seus problemas estava diante dos seu olhos, mas ele nao era mais capaz de crer! O problema espiritual daquele homem era a incredulidade.

Por isso a segunda palavra de Jesus: “filho os seus pecados estão perdoados”. Difícil dizer  o que João sentiu ao ouvir essas palavras. Creio que era como se Jesus dissesse: eu não te julgo filho, como todos fizeram até hj, eu te perdôo. Eu conheço a sua dor. Essas palavras de Jesus àquele homem o desconsertaram. Anos e anos de sofrimento, os mais fortificados muros que a sua dor o obrigou a construir ruíram imediatamente, despedaçaram-se ao se depararem com o amor de Jesus.

Naquele momento João foi curado. De fato ele ainda estava imóvel. Mas por dentro ele já andava. Ele voltou a sonhar, fazer planos, ter perspectivas.

[Meus irmãos eu me identifico muito com João. Com alguma frequencia, diante dos problemas, a primeira coisa que perdemos é o ânimo. Afinal, como mantê-lo se no decorrer de dias, semanas, meses e, às vezes, anos o sofrimento persiste? Como insistir em crer, em ter esperança em Deus, se parece que ele está alheio à minha situação. Perdemos a vontade de orar, de ler a Bíblia, de vir a igreja e quando aqui chegamos, quase que carregados, como João, já não percebemos que estamos na presença desse mesmo Jesus que fez o paralítico andar.  A nossa alegria se esvaiu, a nossa fé se esfriou, e sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11,6).]

E, nesse sentido, as palavras de Jesus a João são para nós também. Filho tenha bom ânimo, eu não te julgo, eu te perdôo, eu conheço a sua dor, conheça agora a minha graça!

E eis que alguns dos escribas diziam entre si: Ele blasfema.
Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vossos corações?
Mateus 9:3-4

Não se surpreenda com a quantidade de fariseus em nossos dias, não são poucos aqueles que surgem tentando desacreditar nossa fé, envenenar nossa mente. Sem saber de nada, absolutamente nada do que, de fato, aconteceu, o que  aquele homem estava sentindo eles ironizam as palavras de Jesus. É o que provavelmente vai acontecer conosco quando sairmos daqui.

Mas a história daquele homem não termina aqui: Que é mais fácil dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou: ‘Levante- se e ande’? vs 6, 7.
(...)
Compreende, aquele paralítico poderia muito bem ter o meu ou o seu nome. A história de vida dele é muito parecida com as nossas, seus sonhos, questionamentos, incertezas, dor e sofrimento não nos são estranhos. E é Jesus quem dirige a nós também, nessa manhã, uma palavra de ânimo. Creia! Persista! Essa é a única coisa que Deus espera de nós.

A cura espiritual é condição de possibilidade para a materialização do milagre em nossas vidas. A incredulidade nos afasta dos projetos de Deus para nós. Para vivermos os sonhos de Deus precisamos ser curados do ceticismo.

Pela fé eu te digo meu irmão: levante, (pegue a sua cama) e ande, para a Glória de Deus! E o mundo glorificará o Senhor, pelo poder que há no nome de Jesus.
E a multidão, vendo isto, maravilhou-se, e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens.
Mateus 9:8