quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Bíblia, Antigo Testamento


A palavra Bíblia vem de biblos, termo grego que designava as cascas de um papiro utilizados como papel há muitos anos atrás. Biblos, quer dizer livro em português. O papiro são as cascas ou as folhas de uma planta que, uma vez prensada, era enrolada para formar um rolo. Ele foi começou a ser usado por volta de 2100 a.C. Como a Bíblia se divide? Em Antigo e Novo Testamento. A palavra testamento é uma tradução de palavras hebraicas e gregas e significa aliança, pacto ou acordo. A Bíblia, de uma maneira geral, fala, portanto, de duas alianças: uma antiga e uma nova. O Antingo e o Novo Testamento. Quantos livros tem a Bíblia? 66. E o AT? 39. A Bíblia toda demorou quase 6 mil anos para ser escrita, só o AT levou quase 2 mil anos para ser concluído. Ela, originalmente, não era dividida em capítulos e versículos, como é hoje. Essa divisão foi feita para facilitar o seu estudo, primeiro a dividimos em capítulos e depois em versículos. Por volta de 400 a.C., ainda na época do profeta Neemias, o Antigo Testamento já tinha todos os 39 livros que o compõe. As cópias mais antigas que temos do Antigo Testamento datam do século IX d. C.
A Bíblia é o livro sagrado dos cristãos. O que é “sagrado”? É tudo aquilo que se relaciona com Deus, ou com a divindade. No caso da Bíblia ela é sagrada porque é a Palavra de Deus (ou contém a Palavra de Deus). Nela Deus se revela, isto é, se apresenta, se mostra, se dá a conhecer aos homens. Parte da Bíblia também é sagrada para os judeus. Que parte é essa? O Antigo Testamento. Eles chamam a Bíblia deles de Tanakh. A palavra “tanakh”, na língua hebraica, é um acróstico das palavras Tora (lei), Nebhiim (profetas) e Kethubhim (escritos), as 3 divisões do cânon judaico. Por que eles não crêem na Bíblia toda, isto é, no Novo Testamento também? O povo judeu é um povo muito antigo e sofrido. Eles foram perseguidos, ao longo da história da humanidade, por diversas nações, entre eles os: egípcios, assírios, babilônicos, persas, gregos, romanos etc. O Antigo Testamento conta essas histórias. Em tempos modernos até mesmo Hitler os perseguiu e os quis exterminar. Por tudo isso, os judeus começaram a sonhar com um Messias, isto é, um salvador mais parecido com um rei, ou um presidente que assumisse o governo da nação e através do poderio bélico e divino os libertasse do Império Romano. No entanto, quando Jesus começa a pregar ele diz que o Reino de Deus, o seu Reino, não é desse mundo, ele começa aqui, mas é mesmo para a eternidade. Ele diz que veio para libertar, não apenas o povo judeu, mas toda a humanidade do pecado e da morte eterna. Quando eles ouviram e entenderam a mensagem de Jesus não puderam aceita-la. Por isso não aceitam nem Jesus, nem o Novo Testamento, que fala sobre a sua vida.
O Antigo Testamento é dividido entre: lei, poesia, história e profetas (maiores e menores). Há quem questione essa divisão, adotando uma classificação entre lei e profetas ou, lei, profetas e escritos.

LOGUS

“No princípio era Logus, e o Logus estava com Deus, e o Logus era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” Jo 1,1-4

O Logus na Grécia Antiga
Esse termo não é eminentemente cristão, ele, também, faz parte da cultura da Grécia antiga, mormente da filosofia grega, sendo utilizado por filósofos como Sócrates e Platão, por volta de 300 ou 400 a.C., na tentativa de explicar a razão universal, a razão da criação, da divindade.
Os gregos usavam o termo não apenas no tocante à palavra falada, mas também em referência a palavra ainda na mente, sem ter sido proferida – a razão. Quando a aplicavam ao universo, referiam-se ao princípio racional que governa todas as coisas.
O Logus na cultura judaica 
Os judeus por outro lado, usavam-no como meio de se referir a Deus, ou a ação criadora de Deus. De forma que aquilo que os filósofos gregos chamavam de razão universal, os judeus chamavam de Deus.
O que tem causado espanto a alguns estudiosos, no entanto, é a proximidade conceitual do Deus uno da cultura hebraica com a “Razão Universal” da erudição grega.
Tal proximidade tem levado muitos a crer que, em algum momento da história antiga, os filósofos gregos tiveram contato com os escritos hebreus, talvez, durante o cativeiro egípcio.
Se, porém, como afirma Paul Tillich, Deus é símbolo pra Deus, talvez consigamos chegar a um lugar comum nessa discussão.  O que os filósofos gregos definiram como Razão Universal, os judeus chamaram Deus.
João
O evangelista João encontra no logus uma maneira de descrever a relação entre o Deus-Pai e o Deus-Filho, empregando termos filosóficos correntes. E é isso que encontramos em Jo 1.
João se apropria de um conceito popular de sua época, para, assim, popularizar a Verdade cristã.
Para ele, o Logus realmente é a palavra, é o verbo em ação, descrevendo a razão de Deus em movimento na encarnação, o Deus-Filho, JESUS CRISTO, se fazendo homem e habitando entre nós.
Pouco tempo mais tarde, alguns pais da igreja conhecidos como apologistas percorreram caminho similar.
Para esses autores do II século d.C., o cristianismo era a única verdadeira filosofia, substituto perfeito para a filosofia dos gregos e a religião dos judeus, que não podia apresentar repostas satisfatórias às perguntas cruciais dos homens.
A teologia do Logus pode significar um primeiro esforço na tentativa de elucidar os ensinamentos cristãos com o auxílio de terminologia filosófica contemporânea. Uma tentativa de conexão entre a teologia e a ciência.

Bibliografia
W. G. KUMMEL Síntese Teológica do NT
Helmut Koester Introdução ao NT
Franklin Ferreira História da Igreja
Bíblia de Estudo NVI

domingo, 26 de dezembro de 2010

Tentações


Cuidado, aquilo que algumas vezes atribuímos a Deus pode não ser obra de suas mãos.


O relato da tentação (Mt 5, Mc 1 e Lc 4) nos diz que Jesus havia passado quarenta dias em jejum. Era, portanto, extremamente natural que desejasse comida. Sendo assim, na primeira tentação, a proposta não poderia ser outra senão que transformasse pedras em pão.
Nada mais convenientemente ardil e diabólico.
Ora, que dificuldade teria Jesus, sendo ele o Filho de Deus, o próprio logus por trás da criação, em transformar pedras em pão? Nenhuma.
Porém, não há milagre algum em viver, desejar e fazer o que os outros fazem, em ser aquilo que esperam de nós. O milagre está na capacidade de surpreender, positivamente, a humanidade, transcendendo seus paradigmas, sua (cosmo)visão.


Quando Jesus responde que nem só de pão viverá o homem, ele está dizendo que não apenas daquilo que se vê, que se espera, que se pode apalpar, daquilo que é material, imanente, humano, viverá o homem, mas também da Palavra, do ‘sonho’ de Deus, da vontade do Criador para as suas criaturas. Ele está mostrando que, ainda que com dano próprio, ainda que precise negar a si mesmo, seus desejos, suas vontades, ou mesmo suas necessidades, se submete inteiramente à soberania de Deus, porque confia e espera nelE. Nele não há contradição, nem sombra de variação, já o nosso coração é enganoso e, por isso, muitas vezes temos atribuído a Deus atos que não são dele, algumas vezes, temos agradecido, como se bênçãos tivéssemos recebido, quando na verdade aquilo que recebemos é laço e maldição.


Não pode vir de Deus proposta alguma que nos desvie dos seus projetos para as nossas vidas. E o propósito de Deus para vida de Jesus, naquele momento, envolvia passar pela tentação e não procurar subterfúgios para dela se evadir! Os caminhos mais fáceis e os atalhos, nem sempre são os melhores caminhos. Eles podem nos privar de valiosas lições que nos levariam à maturidade, à perseverança, à fé. 


A segunda tentação também nos fala de algo absolutamente desejável, aprazível – as riquezas.
Pelos padrões deste mundo o ser é medido pelo ter, então, nada mais natural, que o que deseja ser, tenha, ou queira ter.
Contudo, o padrão ideal a que Jesus se refere na primeira tentação não é o padrão deste mundo. Definir o ser pelo que tem ou não tem é transferir o centro de nossas vidas para as coisas, para os objetos, para Mamon, não para Deus. Não se pode servir a dois senhores. Adore somente a Deus.


Na terceira e última tentação desvendamos outra estratégia muito eficaz e utilizada por Satanás em todos os tempos – pegar trechos isolados da Palavra de Deus e dar a eles uma interpretação que acomode nossos caprichos.
Muitas vezes, temos sido tentados e enganados pela utilização enviesada da Palavra de Deus feita por alguns ‘pastores’ ou por nós mesmos.
Desse erro surgem heresias tamanhas, tais quais: se sou filho do dono do ouro e da prata, logo não posso passar por dificuldades financeiras. Se Deus me colocou por cabeça e não por cauda tenho que exercer uma posição proeminente na sociedade, não posso ficar doente, trabalhar em qualquer coisa, agüentar desaforo e por aí em diante.
Essas são aspirações humanas, tem cheiro e jeito de homens, que podem nada ter a ver com os propósitos de Deus para as nossas vidas. Se há alguma dúvida volte-se para o estilo de vida adotado por Deus-Filho quando se fez carne e habitou entre nós. Quanto glamour!?
Imagina se Jesus tivesse “tomado posse” de uma profetada dessas? O que seria de nós? O que seria da nossa salvação?
O que Jesus nos ensina é que aquele que quiser ser o maior deve ser o servo de todos. Ele mesmo foi o servo sofredor, andou com os pobres e pecadores, não tinha onde reclinar a sua cabeça e morreu de forma dolorosa, numa cruz.
O fato de estarmos tentando levar uma vida segundo os propósitos de Deus não nos dá o direito de tentar a Deus. Não tentarás ao Senhor teu Deus!

Nessas breves linhas, concluo com um alerta meus amigos, é possível que, algumas  coisas que estejamos a atribuir a Deus e contado como benção em nossas igrejas, seja maldição. Como saber? Talvez, responder a essas perguntas ajude.

1.      Isso te afasta ou te aproxima da vontade do Senhor para a sua vida?  
2.      Te faz menos ou mais dependente delE?
3.      Te aproxima ou afasta do teu próximo?
4.      Alimenta teu ego ou tua alma?

Que Deus nos abençoe com discernimento!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Por que investir em Crianças?


“Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais porque delas é o Reino dos céus.” Mc 10.14b

Por que investir em crianças?
Provavelmente a resposta a esta pergunta resultará em alguma afirmação no futuro. E, realmente as crianças são o futuro, mas o futuro do presente da igreja!

Contudo, para aqueles que não tem uma visão de longo alcance ou para aqueles outros que  justificariam eternamente sua inércia no futuro do pretérito, e por isso nunca investiriam nem se preocupariam com os pequeninos, deixe-nos dizer que elas são mais que o futuro próximo – como se isso já não fosse o suficiente, as crianças são o futuro do presente e o presente da igreja.

O futuro do presente indica fatos que acontecem logo depois da fala. É Imediato, urgente, de agora. Afinal, “quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, não está apenas me recebendo, mas também àquele que me enviou”. Mc 9.37

Damos pouca importância às crianças. Quero dizer, quando muito elas são tratadas como um meio para alcançar seus pais, mas nunca como um fim em si mesmas! Estamos mais preocupados em ganhar jovens e adultos. E por isso quase não percebemos que com a dificuldade que enfrentamos para ganhar um adulto poderíamos ganhar 10 crianças!

Ganhar crianças para Cristo é uma questão estratégica para a sobrevivência da igreja. O investimento maciço em crianças significa a certeza de uma igreja forte em um futuro do presente. Significa continuidade, renovação, força, vigor, vida! As crianças podem ser alguém com toda uma vida a oferecer para o Reino.

Afinal, “a mão que balança o berço é a mão que governa o mundo[1]” ou, que controla o destino. As crianças são a herança, o legado da igreja para o mundo. Que tipo de mundo queremos e que tipo de transformação queremos provocar? Devemos começar pelas crianças.
Investir em crianças não é difícil, porque as crianças, diferentemente, de nós adultos se agradam muito facilmente. O que não significa que devamos lhes oferecer qualquer coisa nem que devamos colocar quaisquer pessoas para acompanhá-las, porque o retorno que elas darão pode ser proporcional ao investimento que nelas fizermos. As crianças certamente serão modelinhos de vocês papais, mamães, irmãos e irmãs em primeiro lugar, mas também serão modelinhos de nós pastores, ministros, diáconos e líderes. A questão é: e nós, somos modelinhos de quem?



[1] William Ross Wallace

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

COMO SOMBRAS DE NÓS MESMOS


Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alquire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos hoomens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. (Mt 5,13-16).

Acho válido que estabeleçamos um paralelo entre este texto e aquilo que seria uma releitura do Mito da Caverna de Platão. Apesar de pequeno este recorte nos faz perceber bem o tom do Sermão do Monte. Relendo o mito de Platão... era uma vez uma caverna. Uma caverna grande e escura. Dentro dela viviam homens e mulheres, adultos e crianças. Todos tinham suas tarefas na caverna. Atividades pesadas e pensadas que consumiam todo tempo entre o acordar e dormir daquelas pessoas, exceto por um momento. Um breve momento, quando a caverna era invadida pela luz e tudo dentro dela ficava muito claro. Naqueles instantes alguns fechavam os olhos, outros procuravam orientar suas ações, percebendo a correção ou o erro do que faziam, para outros era o momento de olhar para quem estava ao seu redor, ou ainda de olhar para si mesmos, através de suas sombras projetadas nas paredes da caverna. Quando a luz se esvaia todos eram novamente envolvidos pela escuridão, era hora de dormir... O brilho da luz incomodava muito, outras vezes, revelava algo com que valia a pena sonhar. Como aquelas pessoas foram parar ali? Diz a lenda que, em tempos imemoriáveis, homens e mulheres se mudaram para a caverna ao perceberem suas propriedades mágicas, ela permite enxergar apenas aquilo que se quer ver.
A partir desta leitura, muito particular, do mito da Caverna, percebo que é possível que estejamos a viver como sombras de nós mesmos. Dentro de cavernas. Definidos e consumidos pelas pesadas atividades que desenvolvemos todos os dias entre o acordar e o dormir. Atividades que não nos permitem respirar ou suspirar. Quem pensou para nós essa vida, essas atividades? Quem nos embuiu delas? Qual o seu sentido? São perguntas que uns todos os dias tentam responder, enquanto outros têm medo de enfrentá-las.
Mas há momentos em que, tal qual aqueles homens e mulheres, somos desafiados pela luz. Quando tudo fica muito claro e é possível ver. O que temos feito desses momentos? Muitos fecham os olhos, já não querem mais ver nem a sombra daquilo que poderiam ser. Outros brincam com a projeção da luz sobre o seu corpo. Muitos esperam esse momento para olhar para os outros. A maioria para apontar defeitos e falar da vida alheia. Poucos para ajudar e estender a mão. E tão poucos quanto os últimos, há alguns que olham para si mesmos e tentam se orientar pela luz.
Seja como for, o brilho intenso da luz incomoda a todos, apesar de provocar reações diferentes em cada um. Por isso quando ela se esvai é melhor dormir para voltar a fazer amanhã o mesmo que fazemos hoje, ou para sonhar com aquilo que poderíamos ser, mas que nunca seremos enquanto habitarmos em cavernas!
Qual é a sua caverna? Onde você se esconde daquilo que não quer ver?
Na sua profissão e no status daquilo que ela representa para o mundo? Em casa, nos afazeres domésticos? Na faculdade, no cursinho, na escola? Aqui, nas quatro paredes deste templo? Na religião? Ou em todos esses lugares?
No mito de Platão alguém, um dia, saiu dessa caverna e voltou para contar a novidade da vida lá fora. Todos acharam que ele estava louco. Na história da humanidade o Filho de Deus se fez carne e habitou entre nós para nos falar de uma outra possibilidade para o existir, que vai muito além de nossas cavernas...
Ele nos disse em Mt 5-7 que devemos amar aos nossos inimigos, dar a outra face, orar pelos que nos perseguem, evitar julgamentos precipitados, ajuntar tesouros no céu, entrar pela porta estreita, construir sobre a rocha, ajudar aos necessitados e pregar o verdade do evangelho a toda criatura sem considerar as nossas vidas preciosas a nós mesmos. E mais que aquele que quiser ser o maior deve ser o servo de todos!
Ele nos ensinou a ter fome e sede de justiça, a sermos misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, sal da terra e luz do mundo.
Ele nos instou a guardar os nosso lábios, as nossas mente e os nossos corações. A nos arrependermos de nossos delitos e transgressões, a orarmos e a perdoarmos a quem nos tem ofendido. Ele nos Amou e nós o crucificamos!
Ele quis tomar sobre si os nossos fardos, aliviar nossas cargas. Mas elas dão sentido ao nosso jeito miserável e desumano de ser.
Ele quis nos falar que as preocupações da vida não nos definem, que nós não devemos andar ansiosos por nada nem pelo que havemos de comer, beber ou vestir. COMO SOMBRAS DE NÓS MESMOS. Que nós somos mais importantes do que as nossas roupas possam aparentar. Que a nossa vida é mais importante do que o requinte do alimento que ingerimos ou das panelas que o preparam. Ele teve a sabedoria de nos mandar aprender com as aves do céu e com lírios do campo que não estão preocupadas com essas coisas e mesmo assim Deus a eles prove. Ele disse que por mais ansiosos que estejamos não podemos acrescentar um dia às nossas vidas. Basta a cada dia o seu próprio mal. O dia de amanhã cuidará de si mesmo. Preocupem-se em sair das cavernas, em enxergar as coisas como elas realmente são. Em buscar em primeiro lugar as coisas e os padrões do Reino de Deus. Em abrir os olhos espirituais. A confiar na providência do Senhor. Em anunciar essa mesma mensagem que cura, restaura, liberta e salva àqueles que, ainda perdidos, habitam nos guetos, nas ruas, debaixo das marquises, no SCS, na Rodoviária, nas invasões, no lixão, no Conic, na nosso quadra, no nosso prédio, na nossa casa, nas nossas cavernas. Preocupem-se em ser sal da terra e luz do mundo.
O que faremos agora? Vamos dormir para esquecermos mais rápido o que ouvimos ou vamos nos contentar em sonhar que essas coisas poderiam ser realidade em nossas vidas? Tomara que nenhuma nem outra!



domingo, 21 de março de 2010

Deus do Caos?

Ao longo das Escrituras encontramos exuberantes manifestações do poder de Deus, manifestações, muitas vezes, tão divinas que chegamos a supor fantasiosas.








Analisando (cuidadosamente) as fantásticas intervenções divinas na história percebemos, entretanto, que todas elas tem um traço em comum: a falência humana. Sejamos mais claros, todas elas são ulteriores a miséria, a desgraça, a falência das instituições e dos seres humanos. Parece que todas são posteriores ao caos!






Cogitar a possibilidade da proposição acima estar correta, supor ou toma-la para si, data vênia, leva-nos a idéia de que a religião pode realmente ser, parafraseando K Marx, o ópio do povo.






O discurso teológico cai como uma luva aos oprimidos, aos injustiçados, aos cansados e sobrecarregados, mas porque não é tão atrativo aos abastados? (perdemos a noção da mensagem?)






Dentro dessa perspectiva dos fatos “deus” pode realmente ser produto do homem, ou melhor de seu intelecto, talvez de seu inconsciente.






Faria o homem uso dessa figura que chamou de “deus” como válvula de escape, como fuga da dura realidade da vida?






Parece loucura acreditar no determinismo daquilo que chamamos “deus”, e basear nossa expectativas em atributos que, supostamente, lhe outorgamos e conceituamos. Tudo isso parece muito mais cômodo do que aceitarmos a dureza de nossos corações.






Cogitamos a possibilidade de todo nosso discurso estar equivocado, ou, sem eufemismos, cogitamos a possibilidade de termos crido e persistirmos em crer em uma mentira?






Somos tão arrogantes em proposições sobre aquilo que julgamos conhecer, conter, entender... quem pois conheceu a mente do Senhor, ou quem foi o seu conselheiro?


Como diria Tillich, “deus” é símbolo para Deus.




(Nosso “deus” pessoal moldado por nossa cultura pode não ser o Deus de fato. O “deus” de nossos conceitos pode não existir)






Entrementes, é muito mais fácil culpar “deus”, do que culparmos a nós mesmos.






Por outro lado, a revelia de Deus, o que pode o homem esperar da vida?


Qual o seu significado e propósito?






Nossas crenças estão intrínseca e indelevelmente ligadas a nossa forma de perceber o que nos rodeia.






Não obstante, retomando o tema acima, seriam esses os motivos do Deus do caos? Seria essa a razão, o motivo das intervenções divinas no mundo dos mortais serem precedidas pela miséria e desespero humano?






Apenas no intuito de substanciar o que já fora dito propomos que se analisem os antecedentes históricos de: Adão, Noé, Jacó, José, Israel (étnico no Egito), Moisés, todo o livro de Juízes, Israel (étnico pós-exílico) Jonas e tantos outros.






São boas as probabilidades de uma resposta afirmativa!






Só é possível saber quem Deus realmente é, e o que ele tem a dizer, quando calamos a voz de nossos egos.






Creio ser por essa mesma razão que milagres são relatados posteriormente ao caos. Se é que podemos assim dizer os milagres são ulteriores as tragédias.


Foi até onde fomos capazes de ir, ou talvez até onde precisamos ir para que a voz de Deus se fizesse ouvir. Ao longo dos tempos quando temos demonstrado toda nossa capacidade destrutiva, Deus tem se revelado e demonstrando toda sua capacidade construtiva e criativa!


Claro que parto do pressuposto de que Deus respeita aquilo com que nos dotou e que para muitos nos torna a sua imagem e semelhança: a racionalidade, o livre-árbítrio. Escolha sem racionalidade é instinto, característica dos irracionais e, racionalidade sem capacidade de escolha é determinismo, condicionamento.






No caos baixamos nossa guarda, nossas defesas, e ficamos mais propícios a Deus, como ele realmente é e não como gostaríamos que fosse.






Assim como o esterco pode gerar vida, os nossos piores erros, nas mãos de Deus podem gerar VIDA. (Malcon Smith)






Se Deus tem feito isso da nossa desgraça, o que não seria . . .

domingo, 14 de março de 2010

Lama Sabactâni parte II

Mas experimentemos inverter um pouco o nosso ponto de vista, será que é Deus que nos abandona?




Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós para que não vos ouça. Is 59.2.


Os nossos pecados nos separam de Deus.


Os meus pecados, os seus pecados te separam de Deus.


Sei que alguém ainda poderia argumentar; mas Jesus não pecou! Como então poderia ele experimentar separação de Deus por causa do pecado?


Correto, mas na cruz Jesus não toma sobre si os nossos pecados?


‘... ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe a paz estava sobre ele e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.’ Is 53.5,6.


Assim Cristo, morreu pelas nossas faltas e em nosso lugar. Seu sacrifício é substitutivo. É o que encontramos em 1 Co 15.3b,4.


Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras ...


Por nós, Cristo tomou sobre si a maldição da lei.


Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito(Gl 3.13): Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro(Dt 21.23).


Porém, mesmo no momento mais difícil da vida de Cristo, ele não deixa de nos ensinar e inspirar.


Apesar de naquele momento Jesus ter sido culpado pelo pecado da humanidade e por causa disso experimentar a separação de Deus. Sua postura não é de revolta contra Deus, mas de submissão!


Sempre argumentamos, quando deveríamos calar. Perdemos muito tempo discutindo com Deus porque nos achamos muito importantes, nos achamos dignos de que Deus se explique a nós, quando a obediência libera o entendimento. (Rick Waren)


Mas observemos a postura de Jesus ao se aproximar o fim desse momento agonizante nas palavras de Lucas e de João.




Pai nas tuas mãos entrego o meu espírito. Lc 23.46.


Está consumado e expirou! Jo 19.30.


Na cruz apesar das circunstâncias, apesar de todo sofrimento, de toda a injustiça Jesus não discute com Deus, ele se entrega.


Por mais que a realidade dos fatos, aparentemente, neguem as verdades da fé, por maior que seja o nosso desespero, a nossa angústia devemos persistir em crer, devemos, a exemplo de Cristo, teimar em crer.


Porque Deus, certamente, virá em nosso socorro, como o fez com Cristo ressuscitando-o dentre os mortos ao terceiro dia.




Mas talvez você não experimente o "abandono" de Deus por causa do pecado, talvez você esteja se sentindo abandonado por ele simplesmente porque ele te ama!


- Mas como pode ser? Como posso me sentir longe de Deus porque ele me ama?


Porque Deus é Pai e repreende e disciplina os filhos a quem ama. Ele quer que você tenha suas próprias experiências, que você cresça, amadureça, porque nos momentos mais difíceis de nossas vidas tiramos as maiores lições, ou como vi em um filme nossas vidas não são medidas por quantas vezes respiramos, mas por quantas vezes perdemos o fôlego!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Lama sabactâni

Hoje eu quero conversar com aqueles que muitas vezes se sentem distantes, ou mesmo, abandonados por Deus, como o próprio Jesus também se sentiu em determinado momento de sua vida.








Sei que para alguns a possibilidade de que Cristo tenha se sentido desamparado por Deus em algum momento da encarnação pode soar como heresia, contudo lembremo-nos de que não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém, que como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado.”Hb 4.15.






Ou seja, não há heresia nenhuma em dizer, ou pensar que Cristo em algum momento de sua vida tenha se sentido abandonado por Deus, já que ele foi homem como nós e, portanto, sujeito a tudo quanto estamos hoje sujeitos.






‘Humanizando-se, Deus se tornou mais Deus pra nós.’ Leonardo Boff






Mas que momento ímpar seria esse da vida de Cristo? Seria realmente possível que o filho de Deus se sentisse abandonado por seu pai?






Leiamos o texto de Mc 15.34. A narrativa é a mesma de Mt 27.


Eloí, Eloí, lamá sabactâni?


Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?






Lembremo-nos, rapidamente, da morte de Jesus imaginem Jesus na cruz, suspenso pelas mãos e pelos pés, ensangüentado, absolutamente exausto depois de ter sido torturado durante toda a noite, quando, de repente, e provavelmente no momento mais difícil da vida de nosso mestre ele se diz sentir abandonado por Deus. Que respostas daríamos a esse texto?


Que respostas daríamos a nós mesmos?


Será que o nosso Deus nos desampara nos momentos mais difíceis de nossas vidas? E se for assim, vale a pena crer nesse Deus?


CONTINUA...

terça-feira, 2 de março de 2010

Desertos

j,


Estive pensando naquilo que você me disse sobre estar se sentindo meio estranha, de sentir as vezes que falta alguma coisa.

Queria te dizer que todo ser humano é assim. Todos estamos em vários momentos de nossas vidas insatisfeitos, inseguros. E isso não é, necessariamente ruim! Porque é esse sentimento que nos leva a buscar respostas. Quando sentimos que perdemos as rédias (controle) de nossas vidas, se é que um dia as tivemos, é que queremos tê-las.

Contudo, deixa eu te mostrar as respostas que tenho achado!

Esses momentos críticos de nossas vidas são chamados na bíblia de desertos.

Os desertos, não preciso te dizer são lugares bem incômodos, caracterizados pela escassez hídrica e orgânica (falta água, falta alimento), mas não falta vida no deserto.

No deserto somos forçados a decidir: ou sentamos e nos entregamos à morte, ou procuramos uma saída.

Vários personagens bíblicos passaram por desertos em suas vidas. Lembra?

Moisés logo depois de matar aquele egípcio que maltratava um judeu foi para o deserto e lá ficou até Deus lhe chamar para tirar o povo do Egito.

O povo judeu quando saiu do Egito também foi para o deserto e lá ficou 40 anos até acreditarem em Deus e entrarem na terra prometida.

Até Jesus passou pelo deserto, na ocasião de sua tentação!

Pois bem, os desertos são períodos preparatórios, são períodos de amadurecimento, de reflexão.

São períodos de DECISÃO! E decidir não é fácil.

Mas, por essas inquietações que lhe são próprias, os desertos são lugares de intenso fomento intelectual, portanto de intensa vida!

As pessoas tendem a se lamuriarem (reclamarem) no deserto pensando naquilo que ele não oferece, poucas enxergam o que ele realmente é, uma oportunidade, e as que enxergam, geralmente levam muito tempo para tanto!

A MANEIRA COMO ENXERGAMOS O DESERTO ESTÁ DIRETAMENTE LIGADA AO TEMPO QUE PASSAREMOS NELE, VEJA O EXEMPLO DO POVO JUDEU FORAM NECESSÁRIOS 40 ANOS, JESUS PASSOU 40 DIAS.

Assim, acho que a nossa postura deve ser a de enxergar a misericórdia de Deus em permitir que passemos pelos desertos e a de pedir a Ele que nos dê o discernimento necessário para que entendamos onde estamos, tomemos sábias decisões e, se possíveis rápidas.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Continuação E se?

E se a salvação de Israel tivesse sido arquitetada a partir do trono?

Que isso... é uma afronta a soberania de Deus o que vc está propondo? Alhures, alguém poderia dizer. Ao que eu questionaria: por um acaso a soberania de Deus pode sofrer afronta de um homem?

Analisemos:

1. A forma milagrosa como a vida de Moisés foi poupada;

2. Onde ele foi criado;

3. Como ele foi educado (príncipe); e

4. Que possibilidades de ascensão ao trono ele teria.

Um êxodo mais fácil, menos sangrento, menos sofrido, talvez, até mais ‘divino’, mais ‘soberano’, parece se desenhar.

A verdade é que em nossas vidas uma história, muito parecida com a de Moisés, parece se trançar.

Certamente, Deus fez planos para as nossas vidas na eternidade. E do alto de sua onisciência ele trabalhou com todas as possibilidades para nossa existência. Ele não deixou nenhuma de fora, nem mesmo as piores, o que não quer dizer que ele as desejou, ou as determinou para nós.

Mas, fizemos muitas más escolhas. Temos errado, assustadoramente, o caminho. Temos dado “cabeçadas” em várias direções e, às vezes, Deus, por sua misericórdia infinita, até permite que sejamos bem sucedidos, mas o fato é que o deserto tem nos castigado.

No entanto, olhar para a vida de Moisés desta forma, como hoje propusemos, nos dá a tranqüilidade para afirmar que esteja vc hoje como estiver, e onde estiver, por maiores que tenham sido os teus erros – ainda que tenha sido tirar a vida de um homem, como foi o de Moisés, OS PLANOS DE DEUS PARA A TUA VIDA AINDA CONTINUAM INTACTOS, EM SEU PROJETO ORIGINAL, COMO FORAM ARQUITETADOS POR ELE NA ETERNIDADE.

Os planos de Deus para as nossas vidas são imutáveis, A SOBERANIA DE DEUS NÃO PODE SER AFRONTADA POR HOMENS.

Deus pode, ainda hoje, e em qualquer momento que vc decidir por, realizar aquilo que ele planejou para vc.

Fugir para o deserto e continuar andando nele só depende de nós. Podemos ser abençoados lá também, mas existe sempre a possibilidade de experimentarmos o MELHOR de Deus para as nossas vidas.

Forte Abraço,

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

E se?

Não quero fazer uma pregação, quero propor um estudo, na verdade, um esforço hermenêutico sobre uma passagem que, acredito, todos conhecemos sobejamente.

Quero falar sobre Moisés, sobre um pedaço da história de sua vida, mas sob uma nova perspectiva. Possível, ou não, nunca saberemos de fato... quem sabe?

Por isso vamos lançar sobre a história do êxodo o seguinte questionamento: e se...?

E se ela não tivesse ocorrido da forma como narra o texto, poderia ter ocorrido de outra maneira?

Quero dizer, e se Moisés não tivesse assassinado aquele egípcio?

Sim, porque toda a série de acontecimentos que se desencadeiam na vida de Moisés o são como conseqüência deste ato primeiro, ao que somos levados a questionar: era da vontade de Deus que ele matasse aquele homem?

Certamente não.

Podemos fazer essa assertiva tanto tomando por base aquilo que conhecemos de Deus, quanto um princípio hermenêutico antigo, mas ainda válido retirado da obra de Agostinho De Dutricna Cristiana que prescreve que qualquer interpretação feita de uma certa parte do texto poderá ser aceita se for confirmada por outra parte do mesmo texto, e deverá ser rejeitada se a contradisser.

Porém, é a partir daí que temos Moisés no deserto.

Em decorrência de uma má escolha ele vai conhecer o calor e a aridez do deserto. Vai deixar o palácio do faraó para andar errante por uma terra estranha, sozinho e sem esperança.

Contudo, Moisés não deixa de experimentar ali no deserto a providência do Senhor. É ali que ele conhece sua esposa, é ali que ele tem seus filhos, é ali que ele tem um encontro com o próprio Deus, e é ali, também, que ele é chamado para ser o libertador do povo de Israel, alguém poderia dizer.

Mas, e se...

Quero dizer: tudo isso não poderia ter acontecido de outra forma?

E se Moisés não tivesse tirado a vida daquele egípcio?

Não considerar essa hipótese é quase afirmar que Deus precisava, ou mesmo contava com o homicídio cometido por Moisés para que pudesse colocar em prática seu plano para sua vida e para a vida de Seu povo.

Ou, caindo num absurdo ainda maior, mas muito comum em nossos dias, e em algumas de nossas igrejas, poderíamos pensar que Moisés não teria outra escolha diante da “soberania” sufocante do criador sobre a vontade do homem, em última análise.

Se Moisés não tivesse matado aquele homem, provavelmente, ainda o teríamos no palácio.

Continua...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ir além!

Daqui a alguns instantes este congresso vai terminar, cada um voltará a sua cidade, a sua casa e aos seus afazeres. O que faremos com tudo aquilo que ouvimos e sentimos?

Temo que tudo se transforme em poeira se não formos capazes de ir além e transcender a realidade que nos rodeia, para focar nossas mentes naquilo que realmente importa e para o que fomos criados.

“Mas a mulher de Ló olhou para trás e se transformou em uma estátua de sal.” Gn 19.26.

Certamente esta é uma história muito conhecida de todos nós, mas eu gostaria de rever alguns pontos dela com vocês.

Talvez você esteja se perguntando: o que isso tem a ver com ir além, com transcender? Tá vendo, outro problema dos nossos dias, impaciência, imediatismo.

Vamos ao texto, Ló, segundo a maioria das nossas traduções, sobrinho de Abraão, havia se mudado para Sodoma com toda sua família depois de toda aquela situação que estava se desenhando entre os pastores do seu rebanho e os dos rebanhos de Abraão, já que eles haviam crescido demais e a mesma porção de terra não dava conta dos animais de ambos. Gn 13.8.

Os habitantes de Sodoma eram extremamente perversos como o v. 13 deste capítulo nos informa.

Algum tempo depois de Ló estar ali em Sodoma, não sabemos precisar o quanto, os reis de Sodoma e Gomorra se unem a outros reis para ir a guerra, mas perdem a batalha e são feitos prisioneiros.
Levados cativos, Abraão vai ao socorro deles por causa de Ló, e os liberta, mas não fica com nenhum despojo de guerra.

Muito bem, é nesse contexto que as Escrituras nos apresentam o episódio da destruição de Sodoma e Gomorra. Quando os anjos chegam até o portão da cidade de Sodoma encontram Ló. O que ele fazia ali? Ló – tornara-se, provavelmente membro do conselho diretor da cidade, talvez por suas posses, talvez em gratidão pelo livramento na guerra.

Os membros do conselho diretor de uma cidade, naquela época, se posicionavam em sua entrada, exatamente em seus portões, quando não em uma praça, e estes lugares serviam de centro administrativo e judiciário. Talvez lembrar de onde Absalão se posiciona para receber as pessoas que iam até seu pai, Davi, quando conseguiu usurpar seu trono nos ajude a aceitar mais essa idéia. Então, é provável que por este motivo os anjos tenham ali encontrado Ló.

Os homens de Sodoma, entretanto, quando ficam sabendo do acontecido, dos mais velhos aos mais jovens cercam a casa e exigem que Ló entregue os anjos para que tivessem relações sexuais com eles. Não por acaso, a pratica homossexual masculina ainda hoje é conhecida como sodomia.

Ló oferece as suas duas filhas, que ainda eram virgens para que eles fizessem com elas o que bem entendessem, mas sua proposta é recusada e Ló agora também seria vítima da violência daqueles homens que o empurram, para avançarem em direção a porta de sua casa.

Os anjos o puxam para dentro de casa e ferem os homens de Sodoma com tamanha cegueira que não são capazes de chegar à porta e, nesse ínterim, Ló é avisado do propósito da visita e questionado sobre se ele teria mais alguém na cidade entre parentes, ou mesmo seus futuros genros a quem gostaria de avisar.

Ló procura seus genros, mas eles não lhe dão ouvidos, acham que ele está brincando. Não o levaram a sério e acabam perdendo a vida pela brincadeira.

Hesitação

Como se os anjos permanecessem insistindo, dada a eminência da destruição, foi a vez de Ló recalcitrar, Ló hesitou.


Penso que aqui podemos fazer uma primeira pausa para nos identificarmos com Ló, porque de algum modo também estamos acostumados a pregarmos a mensagem a outras pessoas e, muitas vezes, sermos levados na brincadeira.

Diante disso nossa postura quase sempre é dizer: tudo bem, lavo minhas mãos! Mas essas pessoas estão perdendo suas vidas!

Acho que a pergunta deveríamos nos fazer é: por que as pessoas não nos levam a sério? Talvez porque nós mesmos, como Ló, não estejamos convictos daquilo que pregamos. Como queremos que nos levem a sério se nós mesmos não temos segurança daquilo que falamos, se nós mesmos não estamos dispostos a levar a mensagem que pregamos às últimas conseqüências e deixar nosso modo antigo e vazio de viver? Como os outros estarão? Nosso discurso não convence, nem a nós mesmos!

Por hesitar os anjos lhes tomaram pelas mãos e à força os tiraram da cidade.

Já do lado de fora da cidade, a caminho de Zoar, a mulher de Ló depois de ter sido avisada para não fazê-lo não agüenta e olha para trás, por quê?


Com certeza na hesitação de Ló e na desobediência de sua mulher estão as grandes lições dessa história.

Então pensemos, por que eles não queriam deixar a cidade?

– Pelo que eles deixavam para trás.

Muito bem, o que eles deixavam para trás?

“Tudo”. Casa, mobília, algum gado, roupas, suas ocupações, algumas amizades, que não eram lá grande coisa já que não vemos ninguém se opondo e apoiando a Ló na situação com os anjos (os homens da cidade eram perversos), SUA ROTINA, aquela mesma que muitas vezes os massacrava e consumia, tal como as nossas.



E a mensagem que nos foi pregada e que pregamos, em essência, é outra?! Por acaso também não somos desafiados, instados a deixar tudo e seguir Jesus. A transcender a realidade da rotina, das pré-ocupações com vida?



Não deveria nos espantar o mau juízo dos genros de Ló, sua hesitação ou mesmo a desobediência de sua esposa, porque também somos assim!

Ou como temos ouvido principalmente agora no início do ano: ANO NOVO, VIDA NOVA, CERTO? VOCÊ TEM CORAGEM?



Olhar para trás.

Nada na história de Ló e de sua família deveria nos espantar, porque ela tem se repetido na minha e na sua história. Deus tem agido assim conosco querendo nos tirar de uma situação, desgastante, insustentável, dessa vidinha medíocre que estamos habituados a viver, nos desafiado a caminhar rumo a vida, a deixar a morte e a destruição para trás, a percorrer um caminho excelente, um caminho de salvação, mas não estamos muito certos disso, não estamos preparados para transcender, depois de tanto tempo vivendo nessa situação nos habituamos a ela e, em alguns momentos, até gostamos dela.

Parece que o que aconteceu conosco é algo parecido com isto. (Imagem de um pássaro que não pode voar)


Não fomos criados para isto, mas o tempo parece que nos fez esquecer. Na verdade o nosso distanciamento de Deus nos fez esquecer, outros sequer são ainda capazes de lembrar, nunca viram, nunca foram tocados pela graça e misericórdia, nunca transcenderam.


Tudo bem, o que é transcender?

Vamos ver se identificamos visualmente. Imagens: homem voando, base espacial internacional e acelerador de partículas.

Qual delas representa o transcender de que estamos falando? Todas?

– Nenhuma.

Isso não é transcender, isto é fazer aquilo que podemos e, de certo modo, fomos criados para fazer. Todas essas coisas ajudam a compor quem somos, mas não deveriam nos definir. É quando essas coisas nos definem que somos consumidos, e massacrados pela rotina.

O transcender a que queremos nos referir é o transpor as barreiras da individualidade e do egoísmo, das pré-ocupações da vida. É enxergar e agir pelo outro, é ser tocado pela eternidade, ir além.

Isto é transcender. Imagem solidariedade, oração.

Em nenhum das imagens deixamos de ver o homem agindo, se eximindo de sua responsabilidade, fingindo que aquilo não lhes toca, não lhes diz respeito. Transpondo ou mesmo culpando a Deus por aquilo que é sua parte e está em suas mãos fazer.

Se assim fosse faríamos coro com tantos que vêem na religião um sobressalto a realidade, dentre eles talvez um dos mais famosos, Marx em sua obra clássica “On Religion” em co-autoria com Engels.



Quem de nós poderia culpar Ló ou a sua mulher, foi por sua incapacidade de enxergar mais do que o que lhes rodiava, de deixar casa, roupa, mobília, alguns falsos amigos, e até mesmo sua ROTINA que ele hesitou e ela olhou para trás. E nós não olharíamos?

CONCLUSÃO

Certamente Deus tem muitas vezes nos convidado a ir além da realidade que nos cerca, a transcender o comodismo de nossas gaiolas, que nos tem feito esquecer para que fomos criados ou mesmo quem nos criou. Porém gastamos muito tempo duvidando (como os genros de Ló), hesitando (como o próprio Ló) e por isso muitos de nós tem perdido a vida, por tanto olhar para trás e deixar-se prender e consumir pelo passado e pelas coisas (como a mulher de Ló).

Queria orar com você nessa noite que tem se sentido ou estado preso ao passado, que tem repassado as lembranças de sua vida e sido consumido por elas, que está preso a uma ROTINA de hábitos, trabalho, ou lembranças. Este é um novo tempo e o Senhor te manda hoje os seus anjos lhe apresentarem uma nova proposta, não leve na brincadeira, agarre-a, confie, não olhe para trás, independentemente do que você esteja deixando, lembre de Ló, o que é realmente essencial ele levará com você, seu marido, sua esposa filhos e filhas, até mesmo os genros!

Entrementes, se ainda assim você não é capaz de sair do lugar vamos orar para que o Senhor nos tome pelas mãos e nos socorra como ele fez com Ló e sua família.

Amém.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Coisa de Fraco

Rm 14. 7, 15, Cap 15:2 Eu estou convencido pelas Escrituras de que a liberdade do cristão só é plena quando compartilhada..., pelo menos, pela comunidade de fé a que pertence.

Afinal, como posso estar livre se meu irmão está preso? Como posso ir a todos os lugares se meu irmão os condena e abomina? Como posso comer e beber de tudo se meu irmão se escandaliza? Enfim, como posso fazer de tudo se isso destrói (a fé d) o meu irmão?

Para usar uma figura a que sempre recorro, como posso voar, se meu irmão ainda vive em uma gaiola?

Alguém poderia pensar, cara seu irmão é um “saco”! Às vezes é mesmo, mas ele é seu irmão também, quer dizer, é um saco que você também está obrigado a carregar – obrigado a carregar.

Muitas vezes olhando para Igreja Católica me admira sua unidade, quando entre nós há tantos guetos, tantas denominações, tantas divisões. Sei que essa unidade da igreja universal (católica) é nominal, porque existem muitos movimentos aos quais ela abraça contrariada, mas entre nós nem assim!

Diferentemente do que pregamos, ou do que deveríamos pregar, não somos capazes de abraçar o que é diferente, não somos tolerantes com aqueles que pensam em algo ou em algum ponto diferentemente de nós, ele não é bem-vindo, ainda que Cristo tenha morrido por ele também.

Quanta ignorância! Isso mesmo estamos diante de um problema de conhecimento, ou melhor, de falta dele.

O que poderia ser nossa bandeira, graça e força – unidade na diversidade, multiplicidade de membros em um mesmo corpo, tolerância, respeito, expõe nossa fragilidade.

Tem sido o motivo de nossa ruína e enfraquecimento, mais que isso tem nos causado vergonha e escândalo ao nome de Cristo.

Em meio a isso tudo acho curioso que muitas vezes nos metamos em questões muito mais complexas como o diálogo inter-religioso, quando não damos conta nem de um diálogo inter-denominacional, não raras vezes nem intra-denominacionalmente somos capazes de nos entender, que o diga o conselho da CBB.

O primeiro é mais bonito, pomposo tem mais repercussão, mas o segundo é que nos autoriza a participar do primeiro, caso contrário seremos eternamente motivo de chacota.

Um corpo dividido não tem força, um reino dividido não pode prevalecer. Como pode Jesus expulsar demônios em nome de Belzebu? Mc 2

Vivemos um problema de conhecimento, um momento de crise entre aqueles que se dizem cristãos, mas que não tem nem idéia do que isso na verdade venha a ser. Se soubéssemos nossa cidade, nosso país seria outro, haja vista o número daqueles que se dizem cristãos e ostentam em seus automóveis e pertences dizeres dos quais ignoram o verdadeiro significado.

Não teríamos orações que abençoam propina, nem dinheiro não declarado, não esconderíamos valores nas meias e cuecas, andaríamos de rosto limpo, com a cara limpa. Como filhos da luz. Ef 5:8

Uma crise velha, sempre nova.

A multiplicação descontrolada de igrejas e denominações que a Reforma startou..., no séc XXI não nos leva mais a Bíblia como um dia levou. Temos pressa para ter, temos preguiça de ler, não temos tempo para aprender, há um concurso, uma oportunidade de emprego, uma viagem, um curso que imprescindivelmente precisamos fazer, como resultado somos especialistas, mestres e doutores em tantas coisas, porém reféns da política mercantilista dos milagres, das fórmulas e dizeres mágicos de oportunistas, falsos profetas, que enriquecem oprimindo o pobre, matando e roubando os órfãos e as viúvas e que um dia ouvirão da boca daquele em nome de quem, supostamente operaram sinais e prodígios: afastem-se de mim, não vos conheço e arderão no fogo do inferno. Mt 7:22,23

O preço da ignorância é a manipulação. Sempre foi, sempre o será. Ainda que de mestres e doutores, engenheiros e advogados, médicos, juízes e procuradores. Enquanto o que nos levar a igreja for o mesmo que nos leva às lojas do shopping: o desconto, a facilidade no pagamento, a liquidação do milagre.

Eis o cenário da destruição. O habitat para que surjam novas revelações, as profetadas, as heresias, doutrinas de homens, EGOlogias (criei essa), etc.

Peguemos as nossas bandeiras e as armas, está em cartaz o fundamentalismo religioso, a guerra santa. A intolerância, o ódio, ...

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Filiamo-nos a doutrinas e a pessoas, personagens, personalidades como deveríamos nos filiar a Bíblia e a Cristo.

Sou adepto da teologia da prosperidade, sou arminiano, sou calvinista, sou batista, sou assembleiano e você, o que é? Nada.!? Como ousa me questionar? Cada um tem a sua verdade, vivemos a pós-modernidade, o relativismo das formas e das normas, o caos.

Nessa confusão quem é cristão? Talvez nenhum de nós. O que me faz lembrar a situação vivida por Paulo em ICo quando uns se apresentavam como partidários de Apolo, Pedro, Cristo, ou do próprio Paulo.

O mais santo, o mais certo é aquele que menos faz, que mais se abstém, que mais censura e reprova, o mais chato, o mais fariseu, o mais morto, o mais religioso, o mais “crente”?

Onde ficou o ensino da diversidade de dons para edificação da igreja, onde ficou a arga-massa do corpo – o sangue de Cristo derramado de uma vez por todas e por todos nós?

Se o falar em línguas não cabe no meu “potinho” o assembleiano não é de Deus, se o arbítrio é livre Deus não é soberano, se o arbítrio é escravo Deus é ditador, se eu guardo o sábado eu sou legalista – quem é você que julga o servo alheio?

Rotulamos a nós mesmos e terminamos por rotular a Deus. Engessamos a nossa fé aos limites do que nos é aceitável, Como se Deus pudesse ser contido. Restringimos a atuação de Deus ao que a nós parece ser possível, conveniente. Quão estúpidos e presunçosos nós somos.

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Por outro lado,

Como é bom saber que apesar de tudo isso os atributos invisíveis de Deus, o seu eterno poder e a sua natureza divina (Rm 1:20) continuam intocados pela nossa ignorância. Parafraseando Rubem Alves como é bom saber que Deus é como um rio de águas sempre limpas e puras a despeito da “lama” que jogamos nele a todo instante.

Você que não se afina conosco nessa igreja, nessa denominação, cai fora, como dizem, vai procurar a sua turma, seja feliz lá, não pense que Deus te vocacionou para ser O cristão no meio de cristãos. Exerça sua liberdade, viva a sua fé com os outros tantos que comungam dela com você. Não devemos ser pedra de tropeço para o outro, nem ficar julgando o outro, sei que é isso o que Paulo está nos ensinando no vs 4,10,12,13

Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Vs 5b

Seja feliz, experimente a plenitude da sua liberdade no meio da sua comunidade, quer dizer em meio àqueles que pensam e agem como você. Lá você não será motivo de escândalo nem se escandalizará com ninguém.

Afinal o Reino de Deus é paz, alegria e justiça no Espírito Santo. Rm 14:17 e 15:13

Se chegar a conclusão que essa comunidade não existe repense sua vida, sua postura, muito provavelmente você é o problema, a doença. Afinal em meio a incrível diversidade denominacional que temos não é provável que o Senhor tenha resolvido revelar-se novamente e especialmente apenas a você. Isso não é bíblico.

E nós outros que ficamos também baixemos nossa bola, nossa guarda, lembremo-nos do que diz o vs 12, 13 cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus. Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão.

Alcemos, cada um de nós, os vôos que somos capazes de alçar. Não invejemos, nem critiquemos os vôos de nossos irmãos.

Coma a carne, beba o vinho, faça de tudo?, mas...

“cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente” Rm 14:5b

“seja qual for o seu modo de crer a respeito destas coisas, que isso permaneça entre você e Deus. Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvida é condenado se comer, porque não come com fé; e tudo o que não provém da fé é pecado.” Rm 14:22,23

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Feridas Abertas

Uma ferida aberta nunca sara Pelo contrário ela está sempre exposta a tudo e a todos. Revelando nossa fraqueza, nossa vulnerabilidade. Quem a vê, já sabe onde nos atacar, quem a conserva vive tentando se defender. E pra se defender tem que estar sempre bem armado, atento, observando e interpretando as intenções do outro, possíveis opositores (adversários). Por isso quem tem uma ferida dessas nunca está à vontade, aberto ao outro, nem poderia porque se sente e de fato está exposto, vulnerável. Está fadado a viver a superficialidade da vida porque até mesmo a pétala de uma rosa que se atreva a tocar na ferida será enxergada como ameaça. Muitas pessoas são como feridas abertas. As vezes, muitas vezes, fazemos questão de deixar as feridas abertas, talvez por tudo que sofremos um dia, ou pelo tanto, que de tantos já apanhamos. Nesse caso, elas podem servir de eterna, dolorosa e, portanto eficaz lembrança das desgraças de nossas vidas no frenesi de que assim as próximas feridas possamos evitar. Na verdade nesse caso nos tornamos reféns do passado, da dor, do mal, amargos e enclausurados por um casco de sofrimento. É melhor deixar a que as feridas se fechem. QUE VENHAM AS CICATRIZES. Há quem também as tema por pura questão de estética, vaidade talvez. Mas melhor que as feridas abertas as cicatrizes são na pele de um guerreiro as marcas de suas batalhas. Marcas nem sempre de honra é verdade, mas que com certeza moldaram seu caráter. As feridas cicatrizadas não doem, quem aponta pra minhas cicatrizes pode até me envergonhar, mas com certeza não pode me ferir. Já sofri aquela dor, já caminhei por aquele deserto. Vi o sangue ao seu redor coagular e formar uma casca dura que depois de um tempo inexplicavelmente, mas não insensivelmente deu lugar a uma nova pele. E ai eis uma outra questão: NOSSO TIPO DE PELE. Em alguns as cicatrizes são mais feias a pele parece não reagir bem ao corte, já em outros elas simplesmente se fecham e muitas vezes não somos nem mesmo capazes de identificar o local onde outrora a ferida. Sim, esse tipo raro de pessoa existe, mas o fato de não conseguirmos identificar as cicatrizes não significa que essas pessoas não as tenham, pois parto do pressuposto de que não há aquele que tenha vivido que não tenha se ferido. O que teria pois a pele daqueles que com eles isso acontece, senão uma profunda intimidade com o amor de Cristo? Mas voltando as cicatrizes normais, incomodas e feias, direi o óbvio: quanto maiores e mais feias elas forem maior o tamanho das batalhas travadas. Ledo engano, o tamanho das feridas de que me proponho falar, podem não estar ligadas ao tamanho das batalhas que a originaram. O TAMANHO DAS FERIDAS DE QUE ME PROPONHO A FALAR, SÃO DO TAMANHO QUE DAMOS A ELAS. Muitas vezes podemos ser como Don Quixote de La Mancha, sim, muitas vezes podemos ser como o protagonista do clássico de Cervantes, travando batalhas imaginárias contra adversários imaginários, quem nunca fez isso? Quem nunca lutou com quem sequer sabia do que se passava em nossos corações? Mas engana-se o que pensa que esse tipo de batalhas também não deixa marcas, porque elas deixam, ah se deixam. O adversário é imaginário, não as ações e os sentimentos em jogo, confirme o que digo e volte-se ao fim daquele que lutou com um moinho. Sabe gente, o melhor é que venham mesmo as cicatrizes, por tudo aquilo que já dissemos, mas também porque, certamente, a pele que nascerá é mais forte do que pele que a deu lugar. Deve ser melhor estarmos vulneráveis as lembranças do que superamos, quando nos apontarem as cicatrizes em nossos corações, do que expostos ao sofrimento eterno de chagas abertas. Você pode, e eu diria, você, provavelmente, vai se ferir novamente, é natural. Mas não é natural deixar a ferida aberta Que venham as cicatrizes.