quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Feridas Abertas

Uma ferida aberta nunca sara Pelo contrário ela está sempre exposta a tudo e a todos. Revelando nossa fraqueza, nossa vulnerabilidade. Quem a vê, já sabe onde nos atacar, quem a conserva vive tentando se defender. E pra se defender tem que estar sempre bem armado, atento, observando e interpretando as intenções do outro, possíveis opositores (adversários). Por isso quem tem uma ferida dessas nunca está à vontade, aberto ao outro, nem poderia porque se sente e de fato está exposto, vulnerável. Está fadado a viver a superficialidade da vida porque até mesmo a pétala de uma rosa que se atreva a tocar na ferida será enxergada como ameaça. Muitas pessoas são como feridas abertas. As vezes, muitas vezes, fazemos questão de deixar as feridas abertas, talvez por tudo que sofremos um dia, ou pelo tanto, que de tantos já apanhamos. Nesse caso, elas podem servir de eterna, dolorosa e, portanto eficaz lembrança das desgraças de nossas vidas no frenesi de que assim as próximas feridas possamos evitar. Na verdade nesse caso nos tornamos reféns do passado, da dor, do mal, amargos e enclausurados por um casco de sofrimento. É melhor deixar a que as feridas se fechem. QUE VENHAM AS CICATRIZES. Há quem também as tema por pura questão de estética, vaidade talvez. Mas melhor que as feridas abertas as cicatrizes são na pele de um guerreiro as marcas de suas batalhas. Marcas nem sempre de honra é verdade, mas que com certeza moldaram seu caráter. As feridas cicatrizadas não doem, quem aponta pra minhas cicatrizes pode até me envergonhar, mas com certeza não pode me ferir. Já sofri aquela dor, já caminhei por aquele deserto. Vi o sangue ao seu redor coagular e formar uma casca dura que depois de um tempo inexplicavelmente, mas não insensivelmente deu lugar a uma nova pele. E ai eis uma outra questão: NOSSO TIPO DE PELE. Em alguns as cicatrizes são mais feias a pele parece não reagir bem ao corte, já em outros elas simplesmente se fecham e muitas vezes não somos nem mesmo capazes de identificar o local onde outrora a ferida. Sim, esse tipo raro de pessoa existe, mas o fato de não conseguirmos identificar as cicatrizes não significa que essas pessoas não as tenham, pois parto do pressuposto de que não há aquele que tenha vivido que não tenha se ferido. O que teria pois a pele daqueles que com eles isso acontece, senão uma profunda intimidade com o amor de Cristo? Mas voltando as cicatrizes normais, incomodas e feias, direi o óbvio: quanto maiores e mais feias elas forem maior o tamanho das batalhas travadas. Ledo engano, o tamanho das feridas de que me proponho falar, podem não estar ligadas ao tamanho das batalhas que a originaram. O TAMANHO DAS FERIDAS DE QUE ME PROPONHO A FALAR, SÃO DO TAMANHO QUE DAMOS A ELAS. Muitas vezes podemos ser como Don Quixote de La Mancha, sim, muitas vezes podemos ser como o protagonista do clássico de Cervantes, travando batalhas imaginárias contra adversários imaginários, quem nunca fez isso? Quem nunca lutou com quem sequer sabia do que se passava em nossos corações? Mas engana-se o que pensa que esse tipo de batalhas também não deixa marcas, porque elas deixam, ah se deixam. O adversário é imaginário, não as ações e os sentimentos em jogo, confirme o que digo e volte-se ao fim daquele que lutou com um moinho. Sabe gente, o melhor é que venham mesmo as cicatrizes, por tudo aquilo que já dissemos, mas também porque, certamente, a pele que nascerá é mais forte do que pele que a deu lugar. Deve ser melhor estarmos vulneráveis as lembranças do que superamos, quando nos apontarem as cicatrizes em nossos corações, do que expostos ao sofrimento eterno de chagas abertas. Você pode, e eu diria, você, provavelmente, vai se ferir novamente, é natural. Mas não é natural deixar a ferida aberta Que venham as cicatrizes.