quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

“Um Testemunho Entre Nós de que o Senhor é Deus”


Este foi o nome dado pelas tribos de Rúben, Gade e a metade da tribo de Manassés ao imponente altar que construíram às margens do Jordão, quando Josué os despediu para as suas terras, do outro lado do rio. (Js 22, 4.10.34). Era costume no antigo Oriente Médio que nomes extensos fossem utilizados para denominar pessoas e lugares. E O povo de Israel tinha ‘mania de altar’. 
Tomando por base apenas o livro de Josué podemos encontrar o relato da construção de, pelo menos 6 deles, e da destruição de outros tantos. Isso me trouxe a curiosidade, o que os altares escondem ou, revelam?
Todos sabemos que altares eram e, ainda hoje, continuam a ser erigidos como símbolo da devoção a uma divindade. Altares também eram construídos nos locais em que se deram as teofanias, isto é, as manifestações do sagrado. Eram lugares santos, portanto. Em qualquer dos casos eles serviam ou como símbolo ou como demarcação de um espaço qualitativamente diferente do resto do mundo, profano. Nessa linha caminharam sociólogos da religião como Durkheim em sua obra As Formas Elementares da vida Religiosa (1996) e Mircea Eliade em O Sagrado e o Profano (1992).
Mas os altares são ainda algo mais, aquele altar, especificamente, era ainda algo mais. Aquele grandioso amontoado de pedras, era um testemunho de fé. Ele serviu de prova às demais tribos de Israel e aos seus descendentes, de que mesmo estando além do Jordão (geograficamente fora da terra prometida, v. 22,27), as tribos de Rúben, Gade e a metade da tribo de Manassés também eram "povo de Deus" e, no futuro, suas gerações continuariam a adorar ao Senhor.
O altar não servia para aquele momento, apesar de selar aquele tempo. As doze tribos de Israel vinham de inúmeras batalhas e conquistas. As tribos de Rúben, de Gade e a metade da tribo de Manassés estiveram com eles durante todas elas. A memória do Êxodo, do deserto e da conquista da terra estava ainda bem viva. O momento era de paz, de regozijo, de alegria. O altar não era para aquele momento, nem para aquela geração.
O altar era para as gerações futuras. Para os momentos de difíceis. O altar era para o “dia de amanhã”, para quando a memória falhasse, para quando as provações se agigantassem e os homens mostrassem o seu furor. Para quando os israelitas não mais se lembrassem do Senhor, da sua fé comum e que, um dia, foram chamados irmãos. 
O altar era para que todos se lembrassem de que, apesar de fora de Canaã, aquela era a Terra Prometida das tribos de Rúben, Gade e da metade da tribo de Manassés, porque era a terra que o Senhor havia lhes dado por herança. Podia não ser a melhor terra, quero dizer, no melhor lugar, a mais produtiva, mas era o legado do Senhor para eles. Disto, todos as tribos e todas as gerações deveriam se lembrar.
Meus irmãos para esse ano de 2011 sinto que precisamos edificar um altar em nossos corações. Um altar que nos sirva de símbolo, de santuário, de memorial das irrefutáveis demonstrações do amor de Deus por nós. Quantas batalhas até aqui já enfrentamos, quantas vitórias, quantas bênçãos já não alcançamos? Fomos testemunhas do poder salvador, curador e restaurador do Altíssimo em nossa vidas! O momento é de paz, é de alegria, é de sonhos. O altar não é para esse tempo.
Mas, inevitavelmente, dias maus virão, dias em que os sonhos morrerão, em que a alegria se transformará em choro e desespero, quando homens maus demonstrarão a sua ira e a angústia inundará os nossos corações. Dias em que nos esqueceremos de Deus e questionaremos o seu amor. Será que Deus realmente me ama e se importa comigo, porque ele se afastou de mim? Dias de frio, dias de vazio. Para esses dias é o altar! Para os momentos de crise, de tribulação. Para as provações e desafios. Para quando o inimigo de nossas almas abrir sua boca para nos devorar. Para esses dias é o altar. Para quando questionarmos a nossa fé e o lugar que Deus nos deu por herança, a nossa Terra Prometida. Quando questionarmos a felicidade dos justos e invejarmos a prosperidade dos ímpios.
Lembremo-nos, nossa terra prometida é onde o Senhor nos colocou. É ali que ele quer que nós floresçamos e testemunhemos do seu poder. Ainda que ela não seja, a primeira vista, tão bem localizada e próspera como a do teu vizinho. Aquele foi o lugar que Deus preparou para você. Esse lugar tem as características que precisam ser trabalhadas no teu caráter, na tua vida, na tua alma, na tua fé. Por isso essa é a tua Terra Prometida, é terra da onde emanam mel e leite para você e para mais ninguém, porque é ali que o Senhor vai te quebrar, moldar e transformar naquilo que ele te criou para ser, junto com aquela terra, naquela terra! Ali nós experimentaremos a presença e o agir de Deus em nossas vidas, apesar das dificuldades, apesar das provações e da dureza de nossos corações.
Construamos hoje um altar em nossos corações e que tenha ele o nome: Um Testemunho Entre Nós de que o Senhor é Deus. E que ele nos leve sempre cativos aos braços do Altíssimo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Daniel Mastral - Filho do Fogo, Filho da Luz?

Quero começar dizendo que eu estou ciente da advertência de Mc 3.28, 29 que diz:

“Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: é culpado de pecado eterno.”
Por outro, lado penso que é nosso dever trazer tudo o que tem sido dito por Daniel Mastral a um lugar onde todos possamos dialogar em igualdade de condições, sem nos colocarmos em uma posição privilegiada alegando que, de alguma forma, tivemos visões ou revelações especiais da parte de Deus que não lhe aprouve dar a outros mortais, até mesmo porque este lugar comum é, ou deveria ser, a nossa regra de fé e prática e da onde, supostamente, saem as colocações que ele faz em seus livros.
Assim, comecemos por observar o que a Bíblia diz a respeito da maneira eleita por Deus para se revelar aos homens em nosso tempo em Hb 1.1,2:
“Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.”
Não confundamos a Revelação de Deus com os karismas concedidos a seus filhos, esses ainda persistem e os acompanharão pelos tempos.
Segundo Jesus, esse tipo de profetismo, ou seja, a revelação dos mistérios e da vontade de Deus para a humanidade, por meio de um servo escolhido, durou até João, vide Lc 16.16. “A Lei e os profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele.”
Não que Daniel Mastral se apresente como profeta, mas na prática, o teor de sua mensagem – de despertamento da igreja para a batalha espiritual, o é. Claro, a mensagem não é nova – todos nós sabemos que ela permeia todo texto sagrado. O que nos causa espanto é a maneira peculiar como, por ele, a batalha é apresentada, vejamos:
1.    A menos que o comparemos ao João, autor do Apocalipse, essa ‘mensagem’ não é o centro de nenhum outro escrito do Novo Testamento. Paulo fala sobre batalha espiritual, sobre a armadura de Deus e sobre ter subido ao terceiro céu e ter ouvido palavras inefáveis, coisas, entretanto, que não são lícitas ao homem dizer, 2Co 12,2ss, mas estes são assuntos periféricos em suas cartas;
2.    A revelação de João não é suficiente? Por que uma nova revelação, depois de tanto tempo e com tantos novos detalhes?
3.    Não são grandezas equivalentes a se enfrentarem nessa batalha. Impossível comparar o poder de Deus com o poder de Satanás, um é Criador, o outro é criatura!
4.    Essa mensagem tem edificado a vida da igreja ou apenas causado reboliço?
5.    A ênfase da mensagem é a ação de Deus ou a ação do Diabo?
6.    Quem aparece fragilizado na mensagem é o Reino de Deus ou o Reino de Satã?
7.    Qual o espaço na narrativa destinado a demonstração do poder de Deus e qual o espaço destinado à ação de Satanás?
O texto bíblico não fala de um processo de libertação para endemoninhados. Leia os evangelhos! Quando Jesus expulsava demônios ele o fazia por meio de sua palavra, não havia vários encontros depois com a finalidade de fazer os libertos rememorarem seus pecados. A verdade liberta (Jo 8,32). Ele ainda afirma, sobre si mesmo: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. (Jo 8,36).
Os discípulos e os apóstolos também seguem o padrão de Jesus. Deus não tem interesse em ficar trazendo à tona nossa vergonha, quando ele nos perdoa ele lança fora nossas culpas e transgressões, ele perdoa e esquece. Quem perdoa e não esquece somos nós!
“Venham, vamos refletir juntos, diz o Senhor. Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão”. Is 1.18
Não há necessidade de se temer a Satanás e ficar se escondendo dele “maior é aquele que está em nós, do que o que está no mundo” (1Jo 4.4). Que servos do Altíssimo somos nós? Não seriam os filhos de Satã que deveriam se esconder de nós, haja vista o Poder de Deus que em nós habita, ou que deveria habitar?
“Temam o Senhor, vocês que são os seus santos, pois nada falta aos que o temem.” Sl 34.9
É claro que também não deve haver em nós uma atitude jocosa, nem dialogal com os demônios. Não foi isso que Miguel fez quando enfrentou Satanás e não vemos Jesus perguntar mais do que o nome dos demônios nos evangelhos, exceto pelo texto de Mc 5.9ss
Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava disputando com o Diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: O Senhor te repreenda! Jd 1.9
João fala da necessidade de confessarmos os nossos pecados para que alcancemos o perdão, é verdade, mas não nos fala de sessões de regressão para o perdão de pecados cometidos na ignorância como Mastral faz menção em seu processo de libertação. “Se confessarmos os nossos pecados ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda a injustiça.” 1Jo 1.9
Jesus ensinou aos fariseus que se eles fossem cegos não seriam culpados de pecado. “Se vocês fossem cegos não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece.” Lc 9.41
Paulo disse aos gálatas, aos coríntios e aos efésios:
Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.
Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Gl 1:8,9

 “Eu mesmo, irmãos, quando estive entre vocês, não fui com discurso eloqüente, nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de Deus. Pois DECIDI NADA SABER ENTRE VOCÊS, A NÃO SER JESUS CRISTO, E ESTE, CRUCIFICADO.” (destaque nosso) 1Co 2. 1e2
Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo (...). Efésios 4:14,15
João nos alertou:
Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.
Se alguém vem ter convosco, e não traz este ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda participa de suas más obras. 2 Jo 9-11

E Jesus nos advertiu em Mt 24 (transcrevemos apenas trechos), “e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos.” vs 11
Pois aparecerão falsos cristos e FALSOS PROFETAS QUE REALIZARÃO GRANDES SINAIS E MARAVILHAS PARA, SE POSSÍVEL, ENGANAR ATÉ OS ELEITOS. Veja que eu os avisei antecipadamente. (grifo nosso) VS 24 e 25
Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça. Jo 7:18


É mais fácil enganar dizendo uma meia verdade, do que uma mentira inteira!
Diante dessas coisas, fica para nós, no mínimo, o exemplo dos bereanos em At 17.11 “Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras para VER SE TUDO ERA ASSIM MESMO.” (destaque nosso).
Que Deus nos abençoe com discernimento.