sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Daniel Mastral - Filho do Fogo, Filho da Luz?

Quero começar dizendo que eu estou ciente da advertência de Mc 3.28, 29 que diz:

“Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: é culpado de pecado eterno.”
Por outro, lado penso que é nosso dever trazer tudo o que tem sido dito por Daniel Mastral a um lugar onde todos possamos dialogar em igualdade de condições, sem nos colocarmos em uma posição privilegiada alegando que, de alguma forma, tivemos visões ou revelações especiais da parte de Deus que não lhe aprouve dar a outros mortais, até mesmo porque este lugar comum é, ou deveria ser, a nossa regra de fé e prática e da onde, supostamente, saem as colocações que ele faz em seus livros.
Assim, comecemos por observar o que a Bíblia diz a respeito da maneira eleita por Deus para se revelar aos homens em nosso tempo em Hb 1.1,2:
“Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.”
Não confundamos a Revelação de Deus com os karismas concedidos a seus filhos, esses ainda persistem e os acompanharão pelos tempos.
Segundo Jesus, esse tipo de profetismo, ou seja, a revelação dos mistérios e da vontade de Deus para a humanidade, por meio de um servo escolhido, durou até João, vide Lc 16.16. “A Lei e os profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele.”
Não que Daniel Mastral se apresente como profeta, mas na prática, o teor de sua mensagem – de despertamento da igreja para a batalha espiritual, o é. Claro, a mensagem não é nova – todos nós sabemos que ela permeia todo texto sagrado. O que nos causa espanto é a maneira peculiar como, por ele, a batalha é apresentada, vejamos:
1.    A menos que o comparemos ao João, autor do Apocalipse, essa ‘mensagem’ não é o centro de nenhum outro escrito do Novo Testamento. Paulo fala sobre batalha espiritual, sobre a armadura de Deus e sobre ter subido ao terceiro céu e ter ouvido palavras inefáveis, coisas, entretanto, que não são lícitas ao homem dizer, 2Co 12,2ss, mas estes são assuntos periféricos em suas cartas;
2.    A revelação de João não é suficiente? Por que uma nova revelação, depois de tanto tempo e com tantos novos detalhes?
3.    Não são grandezas equivalentes a se enfrentarem nessa batalha. Impossível comparar o poder de Deus com o poder de Satanás, um é Criador, o outro é criatura!
4.    Essa mensagem tem edificado a vida da igreja ou apenas causado reboliço?
5.    A ênfase da mensagem é a ação de Deus ou a ação do Diabo?
6.    Quem aparece fragilizado na mensagem é o Reino de Deus ou o Reino de Satã?
7.    Qual o espaço na narrativa destinado a demonstração do poder de Deus e qual o espaço destinado à ação de Satanás?
O texto bíblico não fala de um processo de libertação para endemoninhados. Leia os evangelhos! Quando Jesus expulsava demônios ele o fazia por meio de sua palavra, não havia vários encontros depois com a finalidade de fazer os libertos rememorarem seus pecados. A verdade liberta (Jo 8,32). Ele ainda afirma, sobre si mesmo: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. (Jo 8,36).
Os discípulos e os apóstolos também seguem o padrão de Jesus. Deus não tem interesse em ficar trazendo à tona nossa vergonha, quando ele nos perdoa ele lança fora nossas culpas e transgressões, ele perdoa e esquece. Quem perdoa e não esquece somos nós!
“Venham, vamos refletir juntos, diz o Senhor. Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão”. Is 1.18
Não há necessidade de se temer a Satanás e ficar se escondendo dele “maior é aquele que está em nós, do que o que está no mundo” (1Jo 4.4). Que servos do Altíssimo somos nós? Não seriam os filhos de Satã que deveriam se esconder de nós, haja vista o Poder de Deus que em nós habita, ou que deveria habitar?
“Temam o Senhor, vocês que são os seus santos, pois nada falta aos que o temem.” Sl 34.9
É claro que também não deve haver em nós uma atitude jocosa, nem dialogal com os demônios. Não foi isso que Miguel fez quando enfrentou Satanás e não vemos Jesus perguntar mais do que o nome dos demônios nos evangelhos, exceto pelo texto de Mc 5.9ss
Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava disputando com o Diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: O Senhor te repreenda! Jd 1.9
João fala da necessidade de confessarmos os nossos pecados para que alcancemos o perdão, é verdade, mas não nos fala de sessões de regressão para o perdão de pecados cometidos na ignorância como Mastral faz menção em seu processo de libertação. “Se confessarmos os nossos pecados ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda a injustiça.” 1Jo 1.9
Jesus ensinou aos fariseus que se eles fossem cegos não seriam culpados de pecado. “Se vocês fossem cegos não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece.” Lc 9.41
Paulo disse aos gálatas, aos coríntios e aos efésios:
Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.
Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Gl 1:8,9

 “Eu mesmo, irmãos, quando estive entre vocês, não fui com discurso eloqüente, nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de Deus. Pois DECIDI NADA SABER ENTRE VOCÊS, A NÃO SER JESUS CRISTO, E ESTE, CRUCIFICADO.” (destaque nosso) 1Co 2. 1e2
Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo (...). Efésios 4:14,15
João nos alertou:
Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.
Se alguém vem ter convosco, e não traz este ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda participa de suas más obras. 2 Jo 9-11

E Jesus nos advertiu em Mt 24 (transcrevemos apenas trechos), “e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos.” vs 11
Pois aparecerão falsos cristos e FALSOS PROFETAS QUE REALIZARÃO GRANDES SINAIS E MARAVILHAS PARA, SE POSSÍVEL, ENGANAR ATÉ OS ELEITOS. Veja que eu os avisei antecipadamente. (grifo nosso) VS 24 e 25
Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça. Jo 7:18


É mais fácil enganar dizendo uma meia verdade, do que uma mentira inteira!
Diante dessas coisas, fica para nós, no mínimo, o exemplo dos bereanos em At 17.11 “Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras para VER SE TUDO ERA ASSIM MESMO.” (destaque nosso).
Que Deus nos abençoe com discernimento.