quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

E se?

Não quero fazer uma pregação, quero propor um estudo, na verdade, um esforço hermenêutico sobre uma passagem que, acredito, todos conhecemos sobejamente.

Quero falar sobre Moisés, sobre um pedaço da história de sua vida, mas sob uma nova perspectiva. Possível, ou não, nunca saberemos de fato... quem sabe?

Por isso vamos lançar sobre a história do êxodo o seguinte questionamento: e se...?

E se ela não tivesse ocorrido da forma como narra o texto, poderia ter ocorrido de outra maneira?

Quero dizer, e se Moisés não tivesse assassinado aquele egípcio?

Sim, porque toda a série de acontecimentos que se desencadeiam na vida de Moisés o são como conseqüência deste ato primeiro, ao que somos levados a questionar: era da vontade de Deus que ele matasse aquele homem?

Certamente não.

Podemos fazer essa assertiva tanto tomando por base aquilo que conhecemos de Deus, quanto um princípio hermenêutico antigo, mas ainda válido retirado da obra de Agostinho De Dutricna Cristiana que prescreve que qualquer interpretação feita de uma certa parte do texto poderá ser aceita se for confirmada por outra parte do mesmo texto, e deverá ser rejeitada se a contradisser.

Porém, é a partir daí que temos Moisés no deserto.

Em decorrência de uma má escolha ele vai conhecer o calor e a aridez do deserto. Vai deixar o palácio do faraó para andar errante por uma terra estranha, sozinho e sem esperança.

Contudo, Moisés não deixa de experimentar ali no deserto a providência do Senhor. É ali que ele conhece sua esposa, é ali que ele tem seus filhos, é ali que ele tem um encontro com o próprio Deus, e é ali, também, que ele é chamado para ser o libertador do povo de Israel, alguém poderia dizer.

Mas, e se...

Quero dizer: tudo isso não poderia ter acontecido de outra forma?

E se Moisés não tivesse tirado a vida daquele egípcio?

Não considerar essa hipótese é quase afirmar que Deus precisava, ou mesmo contava com o homicídio cometido por Moisés para que pudesse colocar em prática seu plano para sua vida e para a vida de Seu povo.

Ou, caindo num absurdo ainda maior, mas muito comum em nossos dias, e em algumas de nossas igrejas, poderíamos pensar que Moisés não teria outra escolha diante da “soberania” sufocante do criador sobre a vontade do homem, em última análise.

Se Moisés não tivesse matado aquele homem, provavelmente, ainda o teríamos no palácio.

Continua...