Ao longo das Escrituras encontramos exuberantes manifestações do poder de Deus, manifestações, muitas vezes, tão divinas que chegamos a supor fantasiosas.
Analisando (cuidadosamente) as fantásticas intervenções divinas na história percebemos, entretanto, que todas elas tem um traço em comum: a falência humana. Sejamos mais claros, todas elas são ulteriores a miséria, a desgraça, a falência das instituições e dos seres humanos. Parece que todas são posteriores ao caos!
Cogitar a possibilidade da proposição acima estar correta, supor ou toma-la para si, data vênia, leva-nos a idéia de que a religião pode realmente ser, parafraseando K Marx, o ópio do povo.
O discurso teológico cai como uma luva aos oprimidos, aos injustiçados, aos cansados e sobrecarregados, mas porque não é tão atrativo aos abastados? (perdemos a noção da mensagem?)
Dentro dessa perspectiva dos fatos “deus” pode realmente ser produto do homem, ou melhor de seu intelecto, talvez de seu inconsciente.
Faria o homem uso dessa figura que chamou de “deus” como válvula de escape, como fuga da dura realidade da vida?
Parece loucura acreditar no determinismo daquilo que chamamos “deus”, e basear nossa expectativas em atributos que, supostamente, lhe outorgamos e conceituamos. Tudo isso parece muito mais cômodo do que aceitarmos a dureza de nossos corações.
Cogitamos a possibilidade de todo nosso discurso estar equivocado, ou, sem eufemismos, cogitamos a possibilidade de termos crido e persistirmos em crer em uma mentira?
Somos tão arrogantes em proposições sobre aquilo que julgamos conhecer, conter, entender... quem pois conheceu a mente do Senhor, ou quem foi o seu conselheiro?
Como diria Tillich, “deus” é símbolo para Deus.
(Nosso “deus” pessoal moldado por nossa cultura pode não ser o Deus de fato. O “deus” de nossos conceitos pode não existir)
Entrementes, é muito mais fácil culpar “deus”, do que culparmos a nós mesmos.
Por outro lado, a revelia de Deus, o que pode o homem esperar da vida?
Qual o seu significado e propósito?
Nossas crenças estão intrínseca e indelevelmente ligadas a nossa forma de perceber o que nos rodeia.
Não obstante, retomando o tema acima, seriam esses os motivos do Deus do caos? Seria essa a razão, o motivo das intervenções divinas no mundo dos mortais serem precedidas pela miséria e desespero humano?
Apenas no intuito de substanciar o que já fora dito propomos que se analisem os antecedentes históricos de: Adão, Noé, Jacó, José, Israel (étnico no Egito), Moisés, todo o livro de Juízes, Israel (étnico pós-exílico) Jonas e tantos outros.
São boas as probabilidades de uma resposta afirmativa!
Só é possível saber quem Deus realmente é, e o que ele tem a dizer, quando calamos a voz de nossos egos.
Creio ser por essa mesma razão que milagres são relatados posteriormente ao caos. Se é que podemos assim dizer os milagres são ulteriores as tragédias.
Foi até onde fomos capazes de ir, ou talvez até onde precisamos ir para que a voz de Deus se fizesse ouvir. Ao longo dos tempos quando temos demonstrado toda nossa capacidade destrutiva, Deus tem se revelado e demonstrando toda sua capacidade construtiva e criativa!
Claro que parto do pressuposto de que Deus respeita aquilo com que nos dotou e que para muitos nos torna a sua imagem e semelhança: a racionalidade, o livre-árbítrio. Escolha sem racionalidade é instinto, característica dos irracionais e, racionalidade sem capacidade de escolha é determinismo, condicionamento.
No caos baixamos nossa guarda, nossas defesas, e ficamos mais propícios a Deus, como ele realmente é e não como gostaríamos que fosse.
Assim como o esterco pode gerar vida, os nossos piores erros, nas mãos de Deus podem gerar VIDA. (Malcon Smith)
Se Deus tem feito isso da nossa desgraça, o que não seria . . .