domingo, 26 de dezembro de 2010

Tentações


Cuidado, aquilo que algumas vezes atribuímos a Deus pode não ser obra de suas mãos.


O relato da tentação (Mt 5, Mc 1 e Lc 4) nos diz que Jesus havia passado quarenta dias em jejum. Era, portanto, extremamente natural que desejasse comida. Sendo assim, na primeira tentação, a proposta não poderia ser outra senão que transformasse pedras em pão.
Nada mais convenientemente ardil e diabólico.
Ora, que dificuldade teria Jesus, sendo ele o Filho de Deus, o próprio logus por trás da criação, em transformar pedras em pão? Nenhuma.
Porém, não há milagre algum em viver, desejar e fazer o que os outros fazem, em ser aquilo que esperam de nós. O milagre está na capacidade de surpreender, positivamente, a humanidade, transcendendo seus paradigmas, sua (cosmo)visão.


Quando Jesus responde que nem só de pão viverá o homem, ele está dizendo que não apenas daquilo que se vê, que se espera, que se pode apalpar, daquilo que é material, imanente, humano, viverá o homem, mas também da Palavra, do ‘sonho’ de Deus, da vontade do Criador para as suas criaturas. Ele está mostrando que, ainda que com dano próprio, ainda que precise negar a si mesmo, seus desejos, suas vontades, ou mesmo suas necessidades, se submete inteiramente à soberania de Deus, porque confia e espera nelE. Nele não há contradição, nem sombra de variação, já o nosso coração é enganoso e, por isso, muitas vezes temos atribuído a Deus atos que não são dele, algumas vezes, temos agradecido, como se bênçãos tivéssemos recebido, quando na verdade aquilo que recebemos é laço e maldição.


Não pode vir de Deus proposta alguma que nos desvie dos seus projetos para as nossas vidas. E o propósito de Deus para vida de Jesus, naquele momento, envolvia passar pela tentação e não procurar subterfúgios para dela se evadir! Os caminhos mais fáceis e os atalhos, nem sempre são os melhores caminhos. Eles podem nos privar de valiosas lições que nos levariam à maturidade, à perseverança, à fé. 


A segunda tentação também nos fala de algo absolutamente desejável, aprazível – as riquezas.
Pelos padrões deste mundo o ser é medido pelo ter, então, nada mais natural, que o que deseja ser, tenha, ou queira ter.
Contudo, o padrão ideal a que Jesus se refere na primeira tentação não é o padrão deste mundo. Definir o ser pelo que tem ou não tem é transferir o centro de nossas vidas para as coisas, para os objetos, para Mamon, não para Deus. Não se pode servir a dois senhores. Adore somente a Deus.


Na terceira e última tentação desvendamos outra estratégia muito eficaz e utilizada por Satanás em todos os tempos – pegar trechos isolados da Palavra de Deus e dar a eles uma interpretação que acomode nossos caprichos.
Muitas vezes, temos sido tentados e enganados pela utilização enviesada da Palavra de Deus feita por alguns ‘pastores’ ou por nós mesmos.
Desse erro surgem heresias tamanhas, tais quais: se sou filho do dono do ouro e da prata, logo não posso passar por dificuldades financeiras. Se Deus me colocou por cabeça e não por cauda tenho que exercer uma posição proeminente na sociedade, não posso ficar doente, trabalhar em qualquer coisa, agüentar desaforo e por aí em diante.
Essas são aspirações humanas, tem cheiro e jeito de homens, que podem nada ter a ver com os propósitos de Deus para as nossas vidas. Se há alguma dúvida volte-se para o estilo de vida adotado por Deus-Filho quando se fez carne e habitou entre nós. Quanto glamour!?
Imagina se Jesus tivesse “tomado posse” de uma profetada dessas? O que seria de nós? O que seria da nossa salvação?
O que Jesus nos ensina é que aquele que quiser ser o maior deve ser o servo de todos. Ele mesmo foi o servo sofredor, andou com os pobres e pecadores, não tinha onde reclinar a sua cabeça e morreu de forma dolorosa, numa cruz.
O fato de estarmos tentando levar uma vida segundo os propósitos de Deus não nos dá o direito de tentar a Deus. Não tentarás ao Senhor teu Deus!

Nessas breves linhas, concluo com um alerta meus amigos, é possível que, algumas  coisas que estejamos a atribuir a Deus e contado como benção em nossas igrejas, seja maldição. Como saber? Talvez, responder a essas perguntas ajude.

1.      Isso te afasta ou te aproxima da vontade do Senhor para a sua vida?  
2.      Te faz menos ou mais dependente delE?
3.      Te aproxima ou afasta do teu próximo?
4.      Alimenta teu ego ou tua alma?

Que Deus nos abençoe com discernimento!